Sol e lua

sábado, 31 de outubro de 2009

O sol,
girassol,
borda um círculo
em torno do mundo.
Toca fundo,
repassa o brilho
e desce.
Então, a lua,
sedutora se insinua
e risonha, aparece.
Em volta
num manto noturno
ornado de estrelas
o sol adormece.
O ouro da noite
cintila em sonho
ilusão e prece.

Marilia Abduani

Presente recebido de uma amiga.Letícia.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Para grande amiga, Marília Abduani.

Marília, Marília
É um som
Uma certa melodia
É pura poesia!
Marília,
Que do sonho conduz à realidade
E da realidade ao sonho...
Que lágrimas não vejo
E se existem, são diamantes.
Qual dor é a sua?
Ou onde ela se esconde?
Que não posso senti-la.
Apenas a poesia!
Marília, Marília...
Daí não sei se finge ou finjo
Se corre ou fujo
Se perto ou longe...
Quero ficar de você...
O eco da poetisa,
Por onde devo procurar?
Nem sei se quero encontrar...
Você, Marília,
Que não é de Dirceu,
Que não é Maria,
Mas, simplesmente,
Marília!
Simplesmente, poesia!
E agora, Marília?
E agora?
Que atrai e se espelha...
Se espalha e se entrega...
Marília, e agora?
Por quantas anda?Onde está?
Tão perto e tão longe...
Quais mãos a leram?
Quais olhos a tocaram?
Suas dores, (que não há)
São as minhas alegrias
São as deles também.
É poeta, poetisa, então finge
E ao fingir sente
Este vale de lágrimas.
Se é bíblica, não sei.
Se é literária,não sei
Se é profunda, eu sei.
Ou profana? Jamais!
Oh!, Marília,
Que pelo seu
me desfaço – ilha.
Mar – ilha!
Mar...ilha!
Ilha...Mar!Marília!
Eu viro e (des) viroEu faço e (des) farço
(não des-faço)
Mas você,
com seu mar,
Suas ondas a me golpear...
Minha farsa se (diz) farsa
E num instante de um traço
Nasce uma breve melodia:
Marília!
É mar...
Se é ilha...
É o fim da trilha!
É pura!
É bela!
É mar!
Não é ilha!
Apenas Marília!

Letícia Andreia 27/08/2003

Encanto

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Eu revejo a nosa história
nos becos e bares,
em tantos lugares,
nas tardes de sol.
Nas noites de chuva,
nu canto de rio,
o toque, o arrepio
por sob o lençol.

Eu revejo o nosso encanto
na aurora que encanta,
na flor que desponta,
no mundo a girar.
Na dança e poesia,
num brilho de lua,
e em mim, que fui tua,
te sinto pulsar.

Marilia Abduani

Flor da agonia

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Chove. Rompe a noite
onde o sol ardia.
Na manhã raiada,
a noite calada,
a flor da agonia.
Sonha a minha alma
o perdão desfeito,
o que foi perfeito
foi jogado ao vento.
Sopra agora o medo,
venta o meu segredo,
foi-se embora o tempo.
No lençol do dia
dorme a esperança,
a ternura mansa
ilusão e canto.
Hoje a estrada é triste,
hoje a noite insiste:
dor e desencanto.
Sofro o que não fiz,
tudo o que eu não quis,
o que não busquei.
Pelo vão da estrada
a saudade orvalha
prantos e migalhas
do que mais amei.

Letra: Marilia Abduani
Música : Marcus Viana

Rastros

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Estradas que longe levam
antes do dia raiar,
pelos caminhos que medram
ante os limites do mar.
Têm pedras, rios e amores,
solidão e ventania.
Arco-íris, sonhos, flores,
poeiras e calmarias.
Estradas que sempre levam
furacões e quietudes
pelos frescores do dia
soprando pela amplitude.
Longas estradas da vida,
por onde os amores vão.
Ficam os nosos rastros.
Estradas passarão.

Marilia Abduani

Adolescência

Flore no caminho
rosas sem espinhos
rebrilhar do sol.
Estrelas transparentes,
borboletas, passarinhos,
arco-íris, girassol.
Árvore de esperança,
brincadeiras de criança,
mistérios do anoitecer.
Poesias, passos de dança,
desfios, alianças,
cantigas de adolescer.
Asas agitadas,
almas irisadas,
chuvas de verão.
Portas destrancadas,
as manhãs raiadas,
o mundo nas mãos.
Primavera renovada,
sonho, flor, amor, perdão.

Marilia Abduani

Monotonia

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Brancas nuvens
moinho sem vento,
folhas secas,
frio e lamento.
Verso impedido,
desesperança,
beijo partido,
passo sem dança.
Monótonos dias,
paisagem morta,
luar sem poesia,
futuro sem porta.
Capim sufocado,
trilha perdida,
desejo castrado,
estrela caída.
Monótona sombra
esquecida no breu,
asa quebrada,
o peito ateu.
Flor desfolhada
ao bafejo do vento
não mais floresceu.

Marilia Abduani

- Conflito

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

truman1 

A vida é sempre um renovar constante
de primavera, sonho e sentimento.
É calor que se refaz a cada instante
é arte, som ,amor e movimento
É mar confuso, às vezes, calmaria,
onde o humano coração flutua.
e vai bordando, dentro em nós, melancolia
que nos redime, atraca e atenua.
A vida, no dorso do seu tempo,
estupra o nosso sonho e some ao vento,
ovula de seu ventre a nossa voz.
Vida baça, nos convoca e nos redime.
Sublima o tempo, nos salva e nos oprime
boceja e dorme: Hoje é ontem dentro em nós.

Poesia de Marilia Abduani - www.mariliaabduani.blogspot.com

Postado por Amilton Passos - www.amiltonpassos.com

 

Vagido

sábado, 12 de setembro de 2009

O hálito do vento
enche de frescor a tarde.
A multiplicação das flores,
a dança dos pássaros
atravessam a traqueia do dia.
A flecha do sol
atinge em cheio
os corações ressequidos.
O barro da desesperança
escorre feito um rio
e passa.
Fica apenas
o vagido do amor
ecoando na noite comovida,
quando a tarde cai.
Fica o ganido da emoção.
Fica exposta a poesia em varais
por onde o arco-íris desce.
Ao findar mais um dia,
a natureza silencia
e a vida agradece.

Marilia Abduani

Orgia

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quando eu amo
é o teu amor que me faz dançar.
Se eu me dano
é só pra te clarear.
Minha música, meu olhar.

Quando a lua cai na rua e vem cantar,
vou pro sol, invento nova luz solar.
É teu corpo o meu abrigo secular.
Meu descanso pra eu dormir e pra eu sonhar.

Teu abraço força a barra da manhã,
nos teus braços sou amiga, sou irmã.
Estes mares, improvável sedução.
Mil altares nos umbrais do coração.

Teu silêncio é o que me dói, que me faz fria.
Tua ausência é dor de parto, é ardor, é orgia.

Marilia Abduani

Viajante

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Embarco nas asas do vento,
e voo
onde a vista não alcança.
Meus olhos de gaivota
gravam traços do caminho
meu coração passarinho
é livre e livre canta.
Desembarco da saudade
e pouso
borboleta na amplidão.
Meu olhar de viajante
recolhe a beleza do instante
e o prende entre os dedos da mão.

Marilia Abduani

Acordes

Eu ainda te percebo
nas planícies orvalhadas
nas serenas madrugadas
nos campos verdes em flor.
nas estrelas reluzentes
sol e lua incandescentes
nas manhas doces do amor.

Eu ainda te percebo
nas histórias dos amantes
nos acordes delirantes
tua voz canta por mim.
Em meus sonhos reticentes
teus abraços envolventes
Saudade terna e sem fim.

Fera

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A fera em mim
morde o teu orgulho,
rasga a tua verdade,
dissipa a tua prudência.
Faz e desfaz a tua vaidade,
o teu silêncio
e a tua calmaria.
Eu mastigo a tua serenidade,
o teu destino.
As minhas presas te contaminam,
veneno doce
em tuas veias.
A fera em mim é voraz.
Recolhe os teus pedaços,
atiça a tua melancolia.
e te engole inda mais uma vez.

Marilia Abduani

Amarras

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Liberdade não tem preço.
Vamos voltar ao começo
e inaugurar novo dia.
Livres das velhas amarras,
leves de tantos perigos,
soltos da dor que vicia.
O caminho que eu persigo
é voraz, radioativo,
mas é fértil em poesia.
Entorpecida, a saudade,
enfraquece, atenua.
Adormece entre mil fases
e a vida continua.

Marilia Abduani.

Alma

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Hoje já é ontem.
O dorso do tempo me convoca
a passeios diários
pelos umbrais do futuro.
Tateio o universo
estuprando a esperança
em transe.
Lentas e soltas
as estrelas dançam
sublimando a noite.
Ovula a minha ansiedade
no crepúsculo intocável
e bendito.
Hoje já é ontem.
No futuro incriado
o tempo engole a ternura primeiera
e o meu presente cochila
sobre antigas histórias.
O vento sopra.
A alma voa.
Boceja o ontem e desponta nova manhã
de ouro e prata
derramando luz em meu
exilado coração.

Marilia Abduani.

Limite

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A morte ronda os meus olhos.
Susto... trauma...
No limite do corpo a saúde do espírito.
O soco no estômago,
O frio do escuro.
A noite eterna em meu dia
vicia
e alinha
o tédio ao sono
e o sono ao medo.
A morte ronda o meu corpo.
E anula
o afago,
a carícia,
a delícia de sabr-me flora,
a malícia de saber-me fauna
no cio.
A agonia
cria a espera do amanhã
nos vestígios do ontem,
tão bifurcado no hoje.
No anseio da entrega
absoluta e serena,
encontro-me viva
e dona só de mim e dos meus engasgos.
O trote,
a cilada,
a voraz emboscada que inaugura os sonhos,
antes do adormecer.
Lenda viva?
Acalanto?
Onde em mim pulsa o coração?
A morte ronda os meus passos.
Desfaço
o corpo da amente
e planto-me,
do fruto a semente
esquecida sobre o chão.
Meus passos passeiam luas
no breu da escuridão.

Marilia Abduani

- Revoada

sábado, 29 de agosto de 2009

revo2

Vou onde a vida leva
fugindo, às vezes de mim,
sonhos antigos carregam
as flores do meu jardim.

No portal do esquecimento
flores sofriam por mim.
Saudades, no mar navega
meu amor frágil e sem fim.

Sigo onde voa a alma
na boca, um beijo ateu.
O tempo goteja, acalma,
flecha de luz no breu.

Com o barro do esquecimento
moldei a minha antologia.
Emoção, passou o vento:
revoada de poesias.

Música: Marcus Viana

Poesia de Marilia Abduani - www.mariliaabduani.blogspot.com

Postado por Amilton Passos - www.amiltonpassos.com

Retrato

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Seu retrato-espelho do meu sono
no confronto enfraquecido do meu tempo.
No ferir do peito, a dor desse abandono
que comanda emoção e pensamento.

Que refaz no coração doce ferida
no silêncio da canção e da lembrança.
De uma essência que ensopou a nossa vida.
Estendida sob o sol, toda a esperança.

Quanto mais próximo o sonho mais é lenda
que se atrela à realidade, frágil prenda,
na saudadeque se achega- é o vento.

Como flores murchas, secas, vagam tristes,
Não há terno coração que não se renda
ao portal de amor e dor do esquecimento.

Marilia Abduani

Ausência

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A dor amarga o sonho,
recolhe as lembranças,
decepa a esperança,
prenuncia a solidão.
Éramos o mesmo poema,
sacudíamos o mundo,
sem o tédio do descaminho,
o terror do desabrigo,
o medo da desesperança.
Éramos amor e luz.
Agora é noite.
Jaz o sol.
Cessou o cantar dos pássaros,
o soprar do vento.
A minha mão, gelada, toca o vazio.
A voz estéril da saudade dorme e acorda comigo,
enquanto o teu corpo ainda repousa em meus olhos.
Do fundo de tua ausência eu me edifico,
pálida rosa,
espalhando o teu perfume,
recebendo o teu orvalho doce, manso e silencioso.

Marilia Abduani.
À poetisa Jane Rossi.

Revoada

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Vou onde a vida leva
fugindo, às vezes de mim,
sonhos antigos carregam
as flores do meu jardim.

No portal do esquecimento
flores sofriam por mim.
Saudades, no mar navega
meu amor frágil e sem fim.

Sigo onde voa a alma
na boca, um beijo ateu.
O tempo goteja, acalma,
flecha de luz no breu.

Com o barro do esquecimento
moldei a minha antologia.
Emoção, passou o vento:
revoada de poesias.

Marilia Abduani

União

A mão
sozinha
não brinca,
não toca,
não produz nenhum som.
Mas, de repente,
se uma outra mão se aproxima,
e num compasso
lento e leve
tocar,
é som,
é música,é o som de uma mão
batendo em outra.
A mão
em par.

Marilia Abduani

Velha canção

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O vento sopra no silêncio das varandas,
e o pensamento vai brincando de sonhar.
A vida passa, lembro o tempo das cirandas,
e das estrelas que eu insistia em contar.

Navega a vida num barquinho de brinquedo
que a enxurrada da idade carregou,
e o sabiá , que dedilhava em meu peito,
os sons que vinham lá do meu interior.

Vem a saudade, traz o gosto da infância.
Tantas lembranças, noites quentes, meu amor,
Eu sou o fruto, a raiz, velha criança,
que ainda acredita no milagre de uma flor.

E hoje, aqui, velha e cansada do caminho,
mãos calejadas pelo tanto que lutei,
ainda ouço as canções dos passarinhos
fazendo ninhos nos caminhos onde andei.

Vem a saudade,traz o pranto que consola,
minha viola vai espantando a solidão.
Eu sou um velho passarinho na gaiola
cantando sempre a mesma e velha canção.

Letra: Marilia Abduani
Música Marcus Viana

Passagem

Voa a vida, pálida ou segura,
doce, amarga, leve ou não, o que isso importa?
um soprar de vento, um pulsar de brisa,
atravessa o novo sol que nos transporta
Resgatar a fé em Deus, a fé na vida,
preso o corpo, livre a alma que desliza.
O perdão, dentro de nós, se faz a porta.

O amor é esse universo de palavras
que se juntam e se derramam na amplidão.
É a força, a direção, a paisagem,
é o tempo, a poesia, a direção.
Voa a vida, como o vento leva os sonhos,
e depois, tão somente, paralisa,
adormece no jardim do coração.

Marilia Abduani

Ave noturna

Ave noturna,sou vento que passa,
no doce bater das ondas do rio.
E, como o amor todo ódio embaça
meu corpo vai dando rasteira no frio.

Eu vou mandar esse choro pra longe
meu coração na candura do estio.
Sou como o tempo que passa e vou onde
meu corpo se esgota na força do cio.

Só levo a poeira da estrada que invento,
meu corpo me leva, pra onde eu não sei.
Coragem na mala, no peito um lamento,
Sou ave cigana, sou bicho sem lei.

Onde quer que eu ande, é só de passagem
seguindo o deserto meus pés baterão
em curvas, desvios, em nova paisagem
Eterna viagem, sinal de paixão.

Marilia Abduani

Leveza

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Livres as mãos sou vento.
No abandono do espírito, sou a leveza do voo.
Nasci da fonte, sou água serena e doce.
Caminho deixando rastros de estrelas.
Ou fogo?
Luzes nascem dos meus olhos
e criam formas nas paredes do coração.
Nesses instantes,
eu sinto que o mundo inteiro
desmaia
na palma da minha mão.

Marilia Abduani

Plantio

Pela rua
deixo rastros.
Flores plásticas,
rosa estática
a deixar um perfume no ar.
Pálida, a lua,
se inflama e se agita.
E bem mais bonita,
desanda a brilhar.
A estrela cadente
saliente fica.
Cai, reluzente,
pra tudo enfeitar,
boneca de pano,
vestido de chita,
me faço bonita
querendo brincar.
Pela estrada
deixo traços.
cálido abraço,
sonhos mágicos
deixando um aviso a dizer:
Colha uma idéia
e solte-a, ao vento.
Ela há de dar frutos,
fartos sentimentos.
A voz da poesia
há de florescer.

Marilia Abduani

Desatino

Inda tenho das planícies orvalhadas
o cheiro bom que me sufoca de prazer.
Inda carrego a escuridão da madrugada
da noite fria em que fiquei sem ter pra que.

Teu vulto acende a lamparina do meu medo.
Teu corpo é o leito onde se esconde o sonho meu.
Eu sei teu cheiro, teu perfume, teu tempero,
vou te buscando entre os umbrais de vários céus.

Inda tenho das montanhas reluzentes
a luz confusa que me faz estremecer.
Quero a difusa luz que nasce dos teus pelos.
Quero viver do teu abraço até morrer.

Teu sono acorda o meu cansaço em plena noite
eu sei, teu beijo é que incendeia a plantação.
Deixo meu sul pra te seguir por outros nortes
num desatino de morar na tua mão.

Marilia Abduani

Ponte

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Eu sou a semente e a poesia que borda e recria a luz do luar.
Sou parte da fauna, sou flora, sou vento e cascata, sou ave a voar.
Eu faço e desfaço o meu pranto
Meu canto te cura e te faz respirar.
Sou ponte, sou mar, cachoeira.
Sou sol, ribanceira, sou chuva a jorrar.

Desfaço as amarras e o pranto, semeio o meu canto pra ouvir teu cantar.
Meus olhos de mel e doçura são frutas maduras pro teu paladar.
Sou parte da tua verdade,
da tua saudade, dos sonhos em flor
Sou parte da tua esperança,
eterna criança, seu frio e calor.

Recolho os entulhos do vento, exalo um lamento a te surpreender.
Portal refletindo os meus olhos,
meu riso acalma a saudade a doer.
Sou parte do rio que foge pras bandas do norte
e deságua no mar.
Sou carne, sou bicho, sou gente,
sou garras e dentes, cigarra a cantar.

Marilia Abduani-Letra
Marcus Viana-Música

Tara

Debaixo dos lençóis os corpos quentes
mas um grande abismo nos separa.
Coração- portal do corpo-amor e mente
confundem-se ao som da nossa tara.

E vai ficando indecente a minha cara
nas paredes invisíveis da loucura.
São dois corpos, um deles não tem freio
e atiça, treme, goza e sae tortura.

Somos dois corações na mesma cama
se um para, o outro se derrama,
e se espalha no colchão, triste e incerto.

Debaixo dos lençóis os nossos gritos
no orgasmo irracional e irrestrito.
Depois ca cama, o resto é só deserto.

Marilia Abduani

Evidências

São outras evidências que eu procuro
um salto indiável obre o muro
um grito ao vento, berro que estilhaça.

O espelho redescobre o meu assombro.
O peso do mundo sobre os ombros,
o tiro a esmo entrecortando a praça.

São outras evidências que eu componho
a mão que apaga a luz acende o sonho,
na exatidão do gesto de carinho.

O eco do meu passo imaginário,
exala, sem nenhum itinerário
na fonte do deserto em meu caminho.

São tantas evidências que eu persigo.
Meu corpo vai seguindo , a sós, comigo
suspenso num silêncio quase audível.

Que eu sinto em minha pele a eternidade.
Que a vida pulse em mim a liberdade,
seara de poesia indivisível

Marilia Abduani

Claras Minas

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Raia o sol, enquanto a lua dorme,
vem, saudade, que ainda estou de pé.
Rompe o dia, mais uma noite morre.
Vem, poesia, faça o que quiser
Clareou, outra emoção que nasce.
Nova estrada, velhas direções.
Esperança, nova fé renasce
nos quintais de tantos corações.
Pé na vida, sigo em frente.
Cada dia uma paixão.
Fé na luta, simplesmente
a riscar meu coração.
Claras minas das gerais que eu amo
água clara, cana, enxada e amor.
É o café, o feijão que vão brotando
pelas mãos desse trabalhador.
Meu suor molhando o leito
dessa terra em aflição.
As sementes do meu peito
se derramam pelo chão.
Cai o sol, a lua vem chegando
sono e frio, quero o teu calor.
Descansar meu coração sangrando
nas estrelas do teu céu de amor.
Mão na mão, vou sem receio
apertar teu corpo em mim.
E fartar-me em teus anseios
num amor que não tem fim.

Letra: Marilia Abduani
Música: Marcus Viana

Lua de Pranto

Lua de pranto
chora num canto
amores vãos.
-Ó Lua de encantos
não chores tanto,
o céu é teu manto.
Brilha na amplidão.
Amanhã, bem cedinho
há sol novamente,
luz incandescente.
Dores passarão.
Marilia Abduani

Faro

Os finos dedos do tempo
apertam
todo frágil sentimento
que desponta da emoção.
Um rastro de amor goteja
do telhado da esperança.
Vista nenhuma alcança.
Segue em qualquer direção.

As ágeis pernas do sonho
contornam
nossos corpos embutidos,
sentimentos repartidos
entre a loucura e a razão.
O faro animal circula
em nós, a fera, que ovula
entre a vingança e o perdão.
Marilia Abduani

Avesso

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Uma parte de mim, que não conheço,
me convoca a inventar novo caminho.
Uma força há em mim, e eu não meço,
e adormeço entre leões e passarinhos.
Vou remando pelas águas do futuro,
o passado é o portal para o presente.
Tantas vezes não me acho, e se procuro,
é saudades de mim o que a alma sente.
Uma parte de mim que não esqueço,
me constrói e me transforma. É o avesso,
e se ontem eu era pedra, hoje sou flor.
E traço com meu braço o meu desejo,
eu mesma o meu abraço, eu mesma o beijo.
Sou o fruto e a raiz. Eu sou o amor.
Marilia Abduani

Andança

Para onde me leva o vento?
Pelos distantes países,
espalha velhas raízes
do coração velho e só.
Para as entranhas da sorte,
lá para as bandas do norte,
estradas de pedra e pó.

Para onde me leva o tempo?
Para oásis distantes,
para campos verdejantes,
para o futuro? Não sei.
O sonho conduz meu passo.
Saudade - um fino traço
de tudo que mais amei.

Marilia Abduani.

- Caminhos

domingo, 16 de agosto de 2009

2008 0 7 12 037 by passosPor tantas estradas
meu canto me guia.
Sereia na noite
vertendo poesia.
Sou anjo, sou fera
razão, sentimento.
Sou rio, cascata
de brisa e de vento.
Por tantos caminhos
meu barco navega.
Meu sonho descansa
saudade me leva.

Marilia Abduani

Semeadura

sábado, 15 de agosto de 2009

As mãos do vento
ensinam a lição da raiz,
varrem a noite
e a manhã renasce
clara.
O sol fecha o mundo
em seu abraço
e a tudo aquece como bênçãos.
O sonho alimenta a alma,
é uma estrela cadente que cai
e se espalha no infinito do coração.
Resta-nos a semeadura e a colheita.
Resta-nos a esperança.
O sonho inaugura a vida.
Fica em nós a semente.
Marilia Abduani

Coração menino

Pulsa em meu peito
um coração menino,
carente,
buscando afetos.
Que vê nas flores
a essência da vida,
as interrogações do presente.
Que traça planos de voo
e vê a asa partida.
Que ensaia caras e bocas
e desata em pranto,
perdida.
Pulsa em mim uma criança
que grita em silêncio,
que fecha os olhos para a maldade,
que sai por aí
buscando brinquedos,
nas lendas de fazer dormir.
Marilia Abduani

Antes que seja tarde

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Antes que seja tarde
invente novo estribilho
plante árvore, faça um filho
rompa oo hímen do perdão.
Destrave as linhas da aurora.
Engula o que lhe devora
desate o seu coração.
Antes que seja tarde
retoque a sua coragem
decore a sua paisagem
e abra teu peito em flor.
Ame, cante, beba um vinho,
polinize o seu caminho
Seja sonho, seja amor.
Antes que seja tarde
afine o seu instrumento,
aprenda a lição do vento
que toca sem machucar.
Renasça da sua história
o passado é só memória
A vida é pra se cantar.
Antes que seja tarde
escreva a sua poesia,
o sol nasce a cada dia,
sempre chega outro verão.
Do ventre da madrugada
desponta, radiante, a estrada
que leva ao seu coração.
Letra: Marilia Abduani
Música: Marcus Viana

Metade

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Metade de mim é forte, é festa,
flor do campo, luz do sol, sereia ao mar.
Mas a outra metade é incompleta.
Descrente, desvairada, flor deserta,
navegante dessas noites sem luar.
Metade é pulsação, é toque e alento
apaziguando guerra, anunciando os dias.
Metade traz no olhar lições do vento
no corpo, só calor e movimento,
na mente um universo de poesias.
Metade de mim guarda o futuro
nas conchas das mãos recebe a vida.
Desponta do horizonte outro verão,
do amor aprendiz nasce a paixão,
comovente, carente, retraída.
A outra metade não tem norte,
hálito da dor transforma o sonho.
Em brancas nuvens passa, infeliz.
Metade faz de mim vírus mordente,
mas a outra é radiante, transparente,
mata a sede, revigora. É feliz.
Marilia Abduani.

Enquanto o amor não vem

Enquanto o amor não vem
abro as janelas,
desfaço nós,
arrumo salas e quartos,
pinto paredes,
renovo flores,
e deixo o sol entrar, tímido, manso, quente.
Enquanto o amor não vem
brinco com pássaros,
desenho nas paredes a
história dos amante,
organizo os sonhos,
fabrico poemas.
Quando o amor chegar,
estarei livre,
pronta,
a alma nas pontas dos dedos,
cruzando abismos,
poetizando o nosso caso.
Coração equilibrando-se no arame do sentimento.
Quando o amor chegar
estarei com asas,
e irei até onde soprar o vento.

Marilia Abduani.

Capim novo

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Através das sombras inatingíveis
surge vento manso.
Grito vazio sulcado de ausências.
Distâncias inertes.
Abandono completo.
No tempo vivido
a dança das flores
a fuga do sol no findar da tarde.
O calor dos sorrisos, o contar das horas
atiçam
vendaval de medos.
Sonho em nosso orgasmo.
Hoje é ontem na diversidade do futuro.
Confissão e toque
fertilizam o sêmen da angústia,
fecundam o ventre da aurora.
Éramos luz antes da sombra .
Éramos canto e dádiva.
Do baú do tempo saltam as lembranças.
Da vida exala o perfume das manhãs,
mofo e solidão se esvaem na noite.
Fica, apenas, no ar, o cheiro de capim novo
anunciando promessa de tempo bom.
Marilia Abduani

Agora é tarde

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Agora é tarde.
Esqueço os versos
e componho outras formas de soltar os sentimentos.
Afloram inspirações.
Da boca contorcida e tosca,
saem faíscas de sonhos que desmaiam ao redor de mim
e caem no papel.
Chegam até onde mora o outro, esse outro que passa
indiferente, oco, triste e só.
A caneta não suja as folhas`.
Palavras voam, mudam o itinerário,
envolvem a vida no que há de mais terno.
O murmúrio da alma é o segredo do mundo,
a sete chaves guardado,
a sete chaves esquecido
no mais íntimo instante em que a emoção vence a razão
no decifrar do enígma chamado vida.
No apagar das luzes e no acender de espelhos,
eu me decifro ou me abandono ou me amo ou me esqueço
entre as imagens refletidas
e tão indiferentes.
Agora é tarde.
Solto as rédeas do verso e lá se vão os poemas.
Marilia Abduani

Alma

sábado, 8 de agosto de 2009

A alma do poeta,
razão e mente,
murmura palavras
e as entrega ao papel.
O vento leva pra longe
todos os sentimentos ali expostos,
dispostos cuidadosamente
no branco.
As mãos do poeta tateiam
o infinito,
aquarela de letras ,
nasce o poema.
Marilia Abduani

Estrela cadente

Caiu uma estrela cadente,
fiz um pedido no instante.
Coração ficou silente
dentro do peito amante.

Disse a estrela: segue atento
que o amor é um aprendiz.
Eu vou aonde leva o vento
sem paragem e diretriz.

E eu fui seguindo o seu rastro,
o meu corpo iluminado
pela luz que vinha dela,
meu caminho resguardado.
E embora rompesse a noite,
a estrela cadente luzia.
E trouxe consigo a sorte,
tempo brando, calmaria.

Estrela, cadente estrela,
bebo a luz do teu clarão.
De longe, inda posso vê-la
luzir em meu coração.

Marilia Abduani

Espaço

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Eu flutuo no tempo improvável,
no interminável tempo
e ainda me mantenho atenta, ressequida de sombras.
Antes, eu trazia o medo pendurado nos ombros
nas solidões varadas.
O tempo foge.
Impossível prender seus rastros
expostos na madrugada.Há gritos vindos do nada,
fantasmas rondando as ruas, pedradas riscando o ar.
E eu sei que estou acordada,
saindo de mim pra correr,
te encontrar.
Apatia.
Doentia lentidão, íntima represa.
Sou de areia e pedra, luz e dia,
fantasia presa.
Eu amo esse espaço morto.
Gosto de sentir as coisas,
o encanto,
de me sentir assim, coisinha estabanada
sem brilho, sem nada, sem espanto.
Sou de silêncios, paragens,
de mel repartido.
Sou fundo de cesto de cada pomar,
de cada manhã,
nessa indizível,
improvável,
inconstante, indivizível saudade.
Marilia Abduani

Enigma

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Havia uma palavra
frágil sombra no azul do céu.
O amor viaja sempre de cabeça para baixo
levando a lua n bico e estrelas na mão.
E, quanto mais cresce,mais se agita,
ora manso, ora veloz,
ora cruelmente atroz.
Cobrindo superfícies,
abismando-se continuamente,
reluzindo,
murmurando
em forma de nuvem,
enigmas.O amor,
frágil,
protetor,
seguro e firme
como uma casca de ovo.
Marilia Abduani.

Bicho

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Se eu te gritasse,por certo escutarias
e, quem sabe, até te deixarias
aqui comigo, sem qualquer segredo.
E sob o corpo teu me tomarias.
Doida de mim, que por melancolia
me pus inteira em teus falsos medos.
Se eu gritasse , por certo me olharias
com olhos mansos de guardar magias
e eu te dormia na palma da mão.
E entre tancos e barrancos, irias
fazer do corpo meu tua moradia
e me comer como se eu fosse pão.
Na dança atenta dessa valsa fria
onde me apertas mais do que podias,
se mais que homem, te tornasses bicho.
E me mordesses, como em orgia,
e a minha dor abrisses, na agonia,
como um cachorro farejando lixo.
Se eu chorasse, por certo chegarias
a se aninhar em minha fantasia
pra ser palhaço nesse meu salão.
Se eu me entranhasse em tua folia
é quase certo que me acordarias
como se acorda a noite de um ladrão.
Se eu te matasse, se por nostalgia
eu te plantasse em minha poesia
como raiz do amor, no coração.
Marilia Abduani

Esperança

Quem sabe na areia deserta
surgisse uma porta aberta,
brotasse algum grito de amor.
E que, das entranhas da noite,
rompesse a corrente da morte,
cortasse o espinho sem flor.
Quem sabe num céu transparente
surgisse uma estrela cadente
sorrindo pra lua, de novo.
E que um trem imaginário
transformasse o itinerário
tão triste e pobre do povo.
Quem sabe na rua silente
um calor incandescente
reinventasse as paixões
E que em linhas bem traçadas
o rumo de toda estrada
desse sempre aos corações.
Quem sabe na areia bruta
mais nenhum filho da santa
amarrasse a nossa voz.
E não roubasse as esperanças.
E tirasse das gargantas
os , tão bem atados, nós.
Marilia Abduani

Em mim

De dentro de mim
e da flor que brota em meu corpo,
eu tento sonhar.
Na cama do vento
o meu sonho cria asas e voa
por sobre estrelas.
De dentro de mim
e do mel que adoça o meu sono,
eu tento esperar.
No anseio do grito,
na espera,
crio formas e parto
por sobre fronteiras.
De dentro de mim
e da luz que aclara o meu medo,
eu tento esquecer
o silêncio,
a angústia.
Abro os olhos
e vejo a vida
sem vida
dentro de mim.
Marilia Abduani

Antologia

O que eu sei é que esta antologia
de mim, ah, de mim, tão desusada,
permanece sempre livre, na poesia,
cosmicamente aérea, improvisada.
Tudo o que eu sei é que esta calma fria
em mim, ai, em mim, tão desvairada,
permanece transparente, transbordante:
lua atônita, rosa decepada.
Tudo o que eu sei é que este horror tamanho
entre o real e o renovar de sonhos
permanece ainda em mim, desordenado.
O rascunho dos meus passos me destina
minha sorte, meu amor ou minha sina,
uma história sem futuro e sem passado.
Marilia Abduani

Presentes

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Te mando um carinho
no canto de um passarinho
num raiozinho de sol.
E, junto, segue meu beijo,
sabor marmelada e queijo,
embrulhado em girassol.
Aceite, é minha ternura.
É uma fonte segura,
água clara, inundação.
E ainda, com amor e jeito,
tirei de dentro do peito,
aceite, é meu coração.
Marilia Abduani

Memorando

domingo, 2 de agosto de 2009

Talvez porque no céu do amor
brotasse uma rosa deserta.
E que na chuva, essa flor,
fosse uma coisa completa.
Talvez porque na face do dia
pés descalços, rumos tortos,
e na caminhada, os sonhos
se espatifassem em mil mortos.
Talvez porque da boca triste
nascesse um grito incolor.
Ou porque essa dor sangrasse
e avermelhasse o amor.
Talvez porque um grão de aurora
gerasse uma rosa fria.
Para adormececer o pranto
de minha alma vazia.
Marilia Abduani

Anonimato

Um dia, alguém te falará de mim e te dará um verso meu, uma mágica,
um segredo que eu terei criado para fugir da solidão nos instantes de ternura ou de fé.
Contará de uma que viveu sem a angústia da espera, sem desespero, sem o terror dos loucos,guardando uma indormida saudade, um estalar de línguas, um tremer de mãos.
Uma vida madura de névoas quotidianas e infinitas,
movimento e paixão, brincando com o brilho intenso
de uma generosa decepção.
Marilia Abduani

Ave de Arribação.

O pulmão claro do mundo
pulsa na escuridão.
Minha sina, minha sorte
é sonhar por precisão.
O pulmão claro da noite
ave de arribação.
Ave, ave cantadeira,
flor primeira da paixão.

Canto pelo peito aberto,
por mim, por nós dois.
Pela ansiedade e deserto
que veio depois.
Canto pela luz do dia
que vicia a solidão.
Oela luz que me alumia
e clareia a escuridão.

O pulmão claro do mundo
repousa na tua mão.
O meu sul, portal pro norte,
minha morte, tua canção.
A justiça frente a frente
no repente da emoção.
Corações que moram rentes
porta aberta pro perdão

Canto pela nossa valsa
tão falsa, tão vil.
Canto pelo nosso amor,
tão primeiro de abril.
Canto por tantas amarras,
tantos gritos, tantos nós.
Enforcando o que foi terno
e calando a nossa voz.

Letra:Marilia Abduani
Música Marcus Viana

Lorena

Porque és a complementação dos meus versos
e de mim mesma,
porque quando chegaste e me tomaste o seio,
eu me senti gigante, dona de todo o mundo,
mãe universal da alegria,
mistério infinito.
Porque vieste de uma longa espera,
e acordaste em meu ventre para me fazer gigante,
e te dar abrigo, eu te bendigo,
Lorena,
minha pequena flor, estrela serena.
Por tudo o que és e pelo que me entregas
através de teus olhinhos inundados de porquês,
eu bendigo a Deus por tua vida e pela luz que vem de teus olhos,
afastando a dor e a treva,
iluminando o meu corpo de mãe.
Minha flor definitiva,
pérola rara.
Aurora decisiva
que meu corpo embala.

Conquista

O peso do pranto
é a medida exata
do encanto.
Marilia Abduani

Profecia

Profetas do presente
prenunciam
o que a alma mente.
Marilia Abduani

Ausência

Saudade escarlate:
lambuza
e parte.
Marilia Abduani

Luz.

A estrela inaugura a noite.
Um brilho emprestado
acorda lendas.
Descansam-se os olhos,
desfaz-se a treva do dia.
A alma voa, liberta,
e adormece nas mãos da poesia.
Marilia Abduani

Espanto

Onde anda a barata que rondava a minha cerveja,
que lambia o meu destino, língua áspera,
roçando o meu orgulho?
E a treva na esperança? O câncer no espírito
roendo a minha fortaleza, deixando-me alheia de mim mesma, frágil, demente?
Onde se esvai o meu tempo?
Onde o relógio do mundo?
Pulsa o meu instante de amar, viver e crer que os poetas permanecem
loucos
ante a sozinhez das cidades inatingíveis.
Meus pés passeiam luas, desordenados, tristes e sós.
E eu? Como desvendar o mistério das cavernas?
Como me livrar do emaranhado da morte? Meus olhos acendem a madrugada,
buscando formas e cores que mesclam entre o medo de ir e a urgência de ficar.
O que fazer com o sexo? Alienado, complexo, sem nexo,
preso na moldura de minha visão mais pura.
Se o sexo não vai bem, a angústia vivifica.
Na boca, um gosto de noite,
de grades na alegria.
A grandeza do sexo borda a nossa poesia e ela cria asas, dança rock and roll,
overdose que o corpo purifica,
lavando o azinhavre da alma, da cabeça
espessa, avessa.
Nem Freud explica!
Marilia Abduani

Tempo

sábado, 1 de agosto de 2009

Tempo que passa

amor que é viagem.

Alma voa,

contorna a paisagem.

Núvens e névoas

céu de cimento

Espelho

Seu espelho, retrato em meu sono,
na moldura envelhecida do meu tempo.
No ferir do peito, a dor deste abandono,
que comanda emoção e pensamento.

Que refaz no coração - doce ferida,
no silêncio, na canção e na lembrança.
de uma essência que ensopou a nossa vida.
Estendida sob o sol toda esperança.

Quanto mais próximo o sonho mais é lenda,
que se atrela à realidade, frágil prenda,
da saudade que se achega - é o vento.

Como flores murchas, secas, vagam tristes.
Não há terno coração que não se renda
ao portal de amor e dor do esquecimento.

Marilia Abduani

Retrato

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Teus olhos - retrato do meu sono,

no espelho enfraquecido do meu tempo.

No ferir do peito, a flor deste abandono,

que comanda a emoção e o pensamento.



Que refaz no coração doce ferida,

no silêncio de canções e de lembrança.

De uma essencia que ensopou a nossa vida

Berço e jardim

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Quem dera eu pousar a cabeça
em meu travesseiro, e dormir sem temor.
Quem dera eu voar, levemente,
na estrela cadente, e em nome do amor,
eu perpetuar em teus braços,
e no teu regaço de mel e jasmim,
dormir confiante e serena, vai valer a pena,
volta pra mim.

Desponta, de vez, na saudade,
no seio da tarde, num canto de mar.
Qualquer primavera que seja,
que Deus nos proteja da calma do mar.
Quem sabe eu te encontro num raio,
nas flores de maio, qualquer coisa assim,
Sentir tua pele morena, vai valer a pena,
volta pra mim.

Desperta, entre beijos e abraços,
se prenda em meu laço de prata e luar,
Desperta em minha poesia
vai raiar o dia, vou te procurar.
Desponta nos meus descaminhos,
retorna ao teu ninho, teu berço e jardim.
Desperta, que a vida é pequena,
vai valer a pena,
volta pra mim.
Letra: Marilia Abduani
Música Marcus Viana

Anúncio do dia

O cigarro apagou
uma estrela queimou
e chorou quem sorria.

Quando o barco virou
quando o caldo entornou,
a caldeira vazia.

Quando a vida girou
quando o tempo passou
tão veloz, quem diria.

Quando o doce acabou.
Quando a festa findou,
só dançou quem vivia.

Mas , se o galo cantar,
e se o mundo acordar
na perfeita poesia.

E se a flor respirar,
quando o vento soprar,
no anúncio do dia.

E se a calma do mar
nos fizer respirar
na voraz calmaria,

E se o sol rebrilhar,
e uma aurora raiar
na mais rara alegria.

Letra: Marilia Abduani
Música: Marcus Viana

Banquete

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ergui uma taça ao vento
brindei a chegada do dia.
Alinhei meus pensamentos,
mesa farta de alegria.

Comprei flores, luz de vela,
pano branco sobre a mesa.
Fiz convite especial:
Achegue-se, Mãe Natureza.

O banquete foi servido
Quem quiser, é só chegar.
Alimente o seu espírito,
A poesia está no ar.

Fartem-se, sonho e rima,
versos, sonetos, canções.
vinho branco da esperança
aquecendo os corações.

Sirvam-se, a casa é nossa,
e me façam companhia.
é toda uma vida em festa
no banquete de poesia

Marilia Abduani

Tecelã

terça-feira, 21 de julho de 2009

Tecelã
Me veja através dos meus olhos,
sentimentos movediços.
Meus dentes: faca sem corte.
Meu sangue: vinho postiço.
Só um gemido, um silêncio
minhas mãos em movimento.
O meu punho é o meu compasso
no traço do sentimento.
Me veja através dos meus olhos
flor da montanha sou eu.
Canoa sem rumo, ao vento
nas divergências do adeus.
Eu durmo em lençol bordado
com fios de ouro e prata.
Mas chega a boca da noite
e transforma ouro em lata.
Me veja através dos meus olhos,
e descortine a manhã.
Meu corpo de finas teias
Sou aranha tecelã.
Marilia Abduani-Letra
Marcus Viana-Música

Vagido

Uma seara de brisa
goteja das mãos do vento.
A noite devolve estrelas.
Pulsa a artéria do tempo.
Do barro dos descaminhos
fiz um jarro -água fria,
lancei ao redemoinho
meus sonhos de ventania.
Quero a linguagem dos rios,
ante a voragem do mar.
Quero o ganido da sorte
e o vagido do luar.
A noite devolve a lua:
silêncio, emoção e arte.
Lua, tímida, flutua,
no céu se esfacela em partes.
Cessa o vento.
Surge a rosa,
tímida rosa do dia.
O orvalho possui a relva
e a fecunda em poesia.
Marilia Abduani

Plantio

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Meu corpo
em teu corpo
plantou a semente.
E ao toque do vento espalhei-me paixão.
Fiapo de luz,
coloridamante,
simples, reluzente,
solto na amplidão.
Eu teço o meu sonho,
construo o meu ninho,
frágil passarinho
doido por cantar.
Fio após fio,
artesã do teu carinho,
orvalhando meu caminho
no prazer de poetar.
Marilia Abduani

Ave cigana

Ave cigana
na beira do rio,
não dança, não canta,
não sabe voar.
Luz que rebrilha
no campo vazio,
no vago arrepio
do vento a tocar.
Ave cigana,
tantos desvios,
canto vazio,
navio a vagar.
Estrela cadente
perdida na noite,
fugindo da morte,
querendo brilhar.
Ave perdida
sou eu, no caminho.
Em mim, passarinho,
só quer descansar.
No campo, nas flores
buscando seu ninho
no bico, um carinho,
no peito, um luar.
Que vento de outono,
que pranto, que engano
soprou tantos planos
pra longe, no mar?
Ave esquecida
na mão do abandono
perdida, sem dono
e não pode voar.
Ave cigana
na beira do rio,
levando no canto
canções de ninar.
Mensagens ao vento
deixando na aurora.
Sou fauna e sou flora
querendo pulsar.
Marilia Abduani

Pergaminho

Meus olhos de mar navegem
e o meu canto me eterniza
pelos caminhos do tempo:
meu sonho de sol e brisa.
Todo o meu corpo orvalha
por sobre os portais das flores,
num vento que amor espalha,
num jogo de luz e cores.
Meu corpo tece o meu sonho
na teia da ventania,
artesã da primavera,
bordo de mel a poesia.
Sou da esperança a candura,
sou da inocência, o caminho.
Meus olhos de mar flutuam
sobre as pedras do caminho.
Cada verso é uma ternura,
toda rima , um pergaminho.
Cada beijo, uma esperança,
cada silêncio, um carinho.
Nas traquinagens do vento
solto ao céu, eu, passarinho.
Marilia Abduani

Leva-me embora.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Leva-me embora contigo
para um caminho novo ou mesmo antigo,
leva-me embora contigo.
Deixa-me andar em teus rastros,
e perder-me em teus fracassos.
Ensinar-te a crer nos vivos.
Eu te prendo em nenhum laço.
Te livrarei das serpentes,
da fúria dos deuses, dos mares.
Te entregarei totalmente
a ti mesmo e a teus andares.
O porão desse meu corpo
sendo a tua liberdade.
Eu serei a sombra tua
sumindo no fim da tarde.
Não haverá medo ou luta
nessa inteira doação.
Passarei só com o meu vulto
e meu terno coração.
Leva-me contigo agora.
Não cobrarei tempo, hora.
Leva-me contigo agora.
Assim, só serei calmaria,
e nunca serei prisão.
Leva-me, serei companhia
nada mais, em tua mão.

Marilia Abduani

Canção

Calmaria
que se espalha
vira vento
na amplidão.
Tudo é pouco
e passa breve.
Tudo é louco,
é só canção.
Ventania
que se inventa
que se aguenta
sem razão.
Passos largos,
dor perdida,
repartida
escuridão.
São tão triste,
canto pouco,
mundo rouco,
sigo só.
Alegria
foi-se embora
meu caminho,
terra, pó.
Mas , bem dentro,
a dor resiste,
não desiste
essa esperança.
Vivo pouco,
pelas sombras.
Pelo nada
faço o chão.

Marilia Abduani

Lembrança

Lembrarás , certo dia, de uma
parte de vida desintegrada.,
de um abraço sonhado a esmo.
Lembrarás de um sorriso
que partiu-se em versos,
só para ter-te em segredo.
Pensarás também em mim, alma tonta,
e de uma alegria inventada
só pelo teu canto.

De um coração repartido
para entregar-te a metade.
E de meu corpo perdido
em tua inconstante saudade.

Marilia Abduani

Por teu amor

Por teu amor eu semei o vento
só pra provar à minha alma pura
que nem a distância é mais que esse momento
em que meu corpo todo te procura.

Por teu sorriso inda tremo, inda ardo,
me desentendo, me engano, me esqueço.
Que nem percebo teu sangue em meu fardo
numa fadiga que eu morro, adormeço.

Terei da angústia os destroços incertos
e da da alegria a visão de desertos,
por tua ausência a canção se desfaz.

Terei somente na vinda do dia
a névoa branda da melancolia
na audição do silêncio ondes estás.

Marilia Abduani

Conflito

A vida é sempre um renovar constante
de primavera, sonho e sentimento.
É calor que se refaz a cada instante
é arte, som ,amor e movimento

É mar confuso, às vezes, calmaria,
onde o humano coração flutua.
e vai bordando ,dentro em nós, melancolia
que nos redime, atraca e atenua.

A vida, no dorso do seu tempo,
estupra o nosso sonho e some ao vento,
ovula de seu ventre a nossa voz.

Vida baça, nos convoca e nos redime.
Sublima o tempo,nos salva e nos oprime
boceja e dorme: Hoje é ontem dentro em nós.

Marilia Abduani

Olhos de mar

quarta-feira, 15 de julho de 2009

No tempo que passa,
na ave que voa,
na lua que embaça,
no amor que perdoa,
eu perco os teus olhos
no claro dos teus
teus olhos de vento
de pranto, de adeus.
Na brisa que toca,
na flor que enternece,
recolho meu sonho
saudade me despe.
Recolha o meu medo
Ó olhos de mar.
Há um pote de ouro
no fim do arco-íris
que é o teu olhar.

Marilia Abduani

Caminhos.

Por tantas estradas
meu canto me guia.
Sereia na noite
vertendo poesia.

Sou anjo, sou fera
razão, sentimento.
Sou rio, cascata
de brisa e de vento.

Por tantos caminhos
meu barco navega.
Meu sonho descansa
saudade me leva.

Marilia Abduani

Lá de onde eu venho

sábado, 11 de julho de 2009

Espalho meu verso na relva
deixo a paz sobrevoar.
Lá no lugar de onde eu venho
a própria vida é um cantar.

Faço a minha casa de palha,
quero a luz de um lampião.
Lá no lugar de onde eu venho
qualquer animal faz canção.

Deixo uma rede escondida
nas árvores livres ao ar.
Lá no lugar de onde eu venho
o mais bonito é plantar.

Quero a chuva, quero o mato
e na grama adormecer.
Lá no lugar de onde eu venho
nada é preciso esconder.

O cachorro no terreiro,
as galinhas no quintal,
Lá no lugar de onde eu venho
liberdade é coisa normal.

Se quero comer, pesco um peixe
ou vou à horta colher.
Lá no lugar de onde eu venho
é tão fácil sobreviver.

E as serenatas que os sapos
pra que eu adormeça farão.
Lá no lugar de onde eu venho
qualquer animal faz canção.

Meu violão, sem repouso,
vai cantar pro mundo ouvir.
Lá no lugar de onde eu venho
nem é preciso dormir.

E à noite, contando estrelas
esperarei meu amor.
Lá no lugar de onde eu venho
nunca é preciso ter dor.

Apresentação

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Nasci do canto
varei o escuro
não mais me acho
nem me procuro.
Me entrego à vida
cadê meu norte?
Não temo a vida
nem vivo a morte.
Busco meu ouro
no fundo poço;
Quero sair,
com licença, moço.
Escrevo na pedra
faço canção.
Deito na relva,
viola na mão.
Meu grito de alarme
é voz dividida.
É grito sem eco,
é dor repartida.
Cigarro deixando
fumaça no ar.
cachaça queimando
meu vã despertar.
Cadê as saudades?
E as tardes, cadê?
Tamanha incerteza
vem de você.
Morri no pranto
tremi de frio
Não mais me encontro
nem me avalio.
Me prende a fossa
cadê meu sul?
São tantas trevas
no céu azul.
Marilia Abduani-Música Marcus Viana

- Desejo

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Jamais calcularia que tinhas o sol nas mãos,
ou que teus olhos fossem vento
soprando tua claridade para acalmar
e diminuir toda tristeza.
Teu corpo, luz e emoção, adivinham madrugadas.
A estrela maior, que brilha em tuas mãos,
retrata uma calmaria que eu nem sei se tens ,mas que entregas
com cuidado, entregas.
Inclino-me sobre teus sonhos. Teus sonhos são caminhos
definitivos onde começa o desejo e explode o orgasmo.
Sei que a noite hoje é mais clara
e a manhã é como um campo onde vai chover.
No céu, pássaros anunciam o dia.
Eu sou só uma sombra ao redor de tua fortaleza.
É lição tua viver muito, sofrer pouco.
E assim em ti eu me debruço para entrar em teu corpo
intocável e secreto
onde começa o prazer através do calor silencioso.

Marilia Abduani

Maria

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Maria de suas ruas
de becos, vilas, esquinas.
Maria de tantas luas,
jovens, velhas, pequeninas.

Maria que vai com as outras
e outras Marias de Deus.
Que despontam pela vida.
Amor, saudade e adeus.

Maria, menina inocente,
carente, amante, mulher.
Tão secretas, tão demente,
Tão firmes em toda fé.

Maria, de seeus abraços,
viver é a sua missão.
Traçando essa vida a laço,
ruminando seu perdão.

Maria, amor e desejo,
magia, esperança, calor.
A boca pedindo beijo,
o corpo implorando amor.

Maria, dourada esperança.
A tudo ativa em seu peito.
Maria, irisada aliança,
meio luz, fosca e sem jeito.

Dispersa, frágil, sombria
ata e desata o destino.
Serena melancolia,
translúcido desatino.

Maria, pobre Maria,
virgem pura e obscena
lenta e solta acolhe o dia.
Névoa que paira, serena.

Baça lua, sol da tarde,
Tateia a noite, sem nexo.
Em seu peito ovula e arde
a ternura do seu sexo.

Maria, doce Maria,
circula em torno da vida.
Às vezes, flor renovada,
e outras, rosa partida.

Somos todas tão Marias
alegria, força, paixão.
Nas entrelinhas da aurora
juntas num só coração.
Traçando alguma poesia
na palma da nossa mão.

Letra:Marilia Abduani
Música Marcus Viana

Sedução

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A minha boca engole a tua.
Transfusão e tremores,
gelo na espinha,sangue em combustão.
Todo o universo se inflama, tudo ao redor se movimenta
e nosso coração dança na chuva.
As flores revestem-se.
A geometria do corpo é devastada.
Água doce
matando a sede.
A alma, em paz, pode dormir
mais leve que o ar,
mais doce que o mel,
mais livre que o vento,
mais clara que o dia.
A tua boca engole a minha
e faz nascer a poesia.

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terça-feira, 7 de julho de 2009

A voragem do tempo engole o coração, a essência.
O vento da tarde
espalha por sobre os campos
lendas e sonhos.
Só quem se dispõe a descobrir estrelas em noite sem lua
sabe a força do sol.
Sol e lua: tão opostos e tão próximos.
O sofrimento traz o esvoaçar de flores e o surgimento de espinhos.
A dor ceifa a primavera.
Mas as noites vêm e vão.
Abre-se a porta do dia.
E, quando a manhã renasce,
o mormaço fica longe
e um vento sopra novamente
canções de anúncios de tempo bom.

Duplicidade

Não perdi a inocência.
Só estou com saudades de mim.
Do meu hálito, da minha voz, dos sons da infância abençoada,
do cheiro da chuva beijando a terra.
Saudades das cachoeiras, das árvores, sonhos.
Mergulho nas cascatas do tempo.
O piar das andorinhas acorda e atiça as lembranças
do porão da casa antiga,cheia de mistérios.
O gosto da cana, o debulhar do milho,
os amores escondidos, os beijos roubados,
coisas que, dentro de mim,
adormecem e acordam diariamente.
A menina que fui e a mulher que sou
descansam em meu coração.
Não perdi a consciência.
Mas solto ,ainda , as asas e cruzo o espaço,
coleciono estrelas,
flores, luas
pelos caminhos onde passo.
Só levo comigo a minha melancolia.

Insônia

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Suspensa no espaço,
a nossa história interminável
atravessa a madrugada.
Insônia.
O tempo passou,
a vida mudou,
mas o amor permanece intacto
entre sonhos nas gavetas,
retalhos de versos,
pólen de esperança,
chicote da saudade.
A nossa história intransponível,
transformada em poesias
inda vive em nós,
pulsando nas noites vazias,
trotando essa vida veloz.

Florescência.

Já não sou frágil.
Posso viver em constante vigília,
as pupilas acordadas,
na noite baixa, antiga,
silenciosa e indormida.
Não me sinto ágil,
mas posso sonhar nas manhãs
decisivas e únicas.
Posso crer no impossível,
enxergar os mistérios
de tudo e do nada
e viver à beira do abismo do pranto.
Já não morro tão fácil.
Ainda posso recriar auroras
na fonte de cada orvalho.
Recolher a chuva
adocicada e bendita
que molha gaivotas e girassóis,
ao sabor da terra molhada.
Acredite, já não vivo só.
Guardo em mim as neuroses, todas,
as minhas origens, os planos.
Meus olhos resmungam e eu
decifro o que eles dizem.
Na clausura da calma em que me deixo
e afogo a eterna solidão.
Eu mesma me basto???.
Concluo o meu tempo e adormeço entre flores e pedras.
Já não me sinto nua.
Visto-me de nuvens de estio
a espera de beijos.
O vento sussurra em meus ouvidos
acalantos tímidos e inocentes.
E eu me contorço em espasmos de ternura
que despem o meu pudor
e ocultam o meu corpo.
Já não sou triste.
O amor é um gato manso,
acaricia o meu verso
e a dor sorri, complacente.
Toda dor se vai.
Miando, arranhando bem leve,
esse mesmo gato manso, de total pureza,
renasce, combustão das cinzas,
e todas as sementes viram frutos,
a escuridão vira luz,
e eu floresço,
flor única e definitiva,
pérola surgida
do ventre da etern(a)idade,
no prazer do gozo consumado
e exato do meu tempo.

Insônia.

domingo, 5 de julho de 2009

Suspensa no espaço,

a nossa história interminável

atravessa madrugada.

Dívida

Eu te devo a minha cara transparente
com a vaga precisão do que foi puro.
Eu te devo ainda um grão, uma semente
semeada pelos vales taciturnos.

Eu te devo inda um segredo, um beijo quente,
e um desejo pendurado em meus lençóis.
Eu te devo uma emboscada, uma corrente
que te prende, que te enlaça, mas não dói.

Eu te devo um testamento sobre o muro
uma cara machucada, um osso duro
tão difícil, tão nocivo em seu horror.

Eu te devo ainda uma névoa de poesia
e uma luz, plena e primeira de alegria,
eu te devo o mesmo engano e o mesmo amor.

Labirinto

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sempre que fito meu rosto em teus erros
e o teu perfume em minha dor se exala
E na audição da minha voz em teus berros
a minha voz se mistura à tua fala.

Na absoluta solidão da ausência tua
eu sinto as pernas da alma retidas.
Tenho a impressão de que chegaste à lua
tal a distância destas nossas vidas.

Uma de mim te acompanha atenta
a outra te perde ante os limites rasos
e terceira nos une e nos separa.

As três pessoas que em meu corpo habitam
vão nos deixando angústias infinitas
nos labirintos dessa nossa tara.

Eu e você

O que me mata é esta distância gelada
entre os meus olhos e os teus.
É essa paixão encerrada
num chão todo feito de adeus.

É esta saudade doente que vem me roubando o sono,
Você, que antes, era o motivo
para eu saber sair do abandono.
Eu, que vivia de sonhos, navegando na ilusão,
E você, que não trouxe a surpresa, e você, que não trouxe o perdão.
Eu fazia tantos planos, que hoje, imersos, estão jogados,
você era o mais bonito dos meus sonhos acordados.

É este grito infinito, lançado no chão do abandono,
é este amor reprimido, todo marcado de sono.
É esta loucura cortante que me joga na poeira,
é esta tortura falante aos meus ouvidos,na esteira.
Esta fuga do presente, esta treva, esta caçada,
esta fábrica de sonhos que não me deixa acordada.

O que me mata é esta ilusão, quase guerra,
entre os meus olhos e os teus.
Esta paixão que se encerra
entre as estradas do adeus.

É esta vingança sofrida,que vem sumindo no nada,
e o meu olhar de criança que foi muito magoada.
É este fantasma de luto,causando torpor e medo
e junto ao fantasma, teu vulto, desatando meus segredos.
Esta afronta, esta amargura, que não me deixa feliz,
esta raiva, o desalento de querer quem não me quis.

Eu e você, que mudança,
só ficou desilusão.
Se ao menos o tempo passado
aceitasse devolução.

O que me mata é esta guerra
entre o meu e o teu olhar.
Infinita cadeia de ondas
nos jogou além do mar.

Aviso

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ainda é tempo, foge da minha agonia,
pra que entregar-se, assim, à minha desilusão?
Eu não sei morrer de amor, vivo de minha poesia,
e se , na estrada da vida, me entrego a qualquer prisão?

Ainda é tempo, foge que sou vazia.
Se não abraço a alegria, tudo em mim é solidão.
Só sinto cansaço imenso, sinto a boca muito fria,
já não guardo fantasias, guardo apenas maldição.

Ainda é tempo, amor, que nada tenho.
Se de velhos mundos venho, só me entrego à escuridão.
Se nas estradas da vida, em nenhuma delas me empenho,
onde buscar a magia pra entregar à tua mão?

Ainda há tempo, foge de um rumo incerto.
Meu sono é um constante deserto de invalidez e de mar.
Sou apenas um navio que não tem o rumo certo
e , que em mares tão diversos, vai, sem forças, se entregar.

Foge, amor, foge que nunca é tarde.
Aqui dentro o peito arde, mas pouco tenho pra dar.
Sinto apenas muito frio, uma fome que causa alarde.
Foge , que ainda há tempo.
Foge do meu olhar.

Apatia

Eu flutuo no tempo.
No interminável, indomável tempo, cínico,
repleto de poeiras e pedras.
E ainda me mantendo atenta
ressequida de sombras.
Antes, eu trazia o medo pendurado nos ombros,
nas solidões varadas.
O tempo foge.
Impossível prender seus rastros
expostos na madrugada.
Há fantasmas nas ruas, pedradas riscando o ar.
E eu sei que estou acordada,
saindo de mim
pra correr, te encontrar.
Apatia,
doentia lentidão, íntima represa.
Sou areia e pedra,
água e vento,
luz e dia,
fantasia presa.
Mas eu gosto de mim assim:
coisinha estabanada,sem brilho,
sem encantos.
Sou feita de silêncios, aragens,
mel escondido,sou fundo de cestos de cada pomar,
de cada manhã.
Nessa indizível, inconstante, improvável saudade.

Um dia...

sábado, 27 de junho de 2009

Um dia, tudo será saudade:
a dor silente e que não sangra,
não dói visível,
a ansiedade roendo as unhas da nossa serenidade,
a solidão, que emurchece o sol
e apaga as estrelas,
o sopro do vento , as infindáveis marés,
os rios de suores nossos de cada dia,
os espinhos de nossa inocência
e a desmedida frustração de não ter sonhado o bastante.
Um dia será lembrança o derradeiro inverno em nós.
Nascerá um tempo sem névoa,
apenas banhado de arco-íris.
Alma nova, sonhos aflorados,
plasmado em rima e pleno de canções.

Oceano

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Eu me desenho oceano
nas invencíveis marés,
vento batendo nas pedras.
O tempo fez do seu jeito.:
Lagoa calma e serena
fez de mim. Assim eu sou.
Nenhum navio em meu porto,
nenhum, jamais atracou.
Lagoa serena e calma
o tempo me desenhou.
Contornou o meu destino.
Meu tempo , o tempo matou.
Marilia Abduani

Névoa

Caminho em torno de mim mesma.
Areia movediça,
vulcão encardido,
névoa que o vento desfaz.
As minhas mãos acariciam o dia que nasce.
Imponderável feito o pranto,
eu me descubro,
e me desfaço,
refaço
e me adivinho
no riso desbotado,
nos beijos sem calor,
nos abraços sem corpos,
nas lágrimas sem olhos.
É o que sei da vida:
o fechar de portas, o diluído silêncio,
o mudar de rumos.
A vida passou pela minha ansiedade
em compasso de espera.
Só assim me vejo.
Só assim me explico:
sonho, poesia,
ilusão e berro.

Canto novo

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A alma,
bicho solto,
livre das velhas penas,
voa como pássaro assustado
pelos andaimes da imaginação.
O canto novo
repõe as harmonias
e as forças.
Enfraquecem as penúrias e os medos.
A noite paralisa e nasce o dia.
O vento dedilha canções de esperança,
enquanto nuvens claras despontam`.
É primavera novamente.

Reflexo

Decorei a tua imagem
no escuro dos meus olhos.
E o teu reflexo ficou em mim,
nítido,
a colorir o meu arco-íris com as tintas da memória.
Além desse mesmo arco-íris,
a minha alma voa,
e cochila sobre estrelas.
Nem o vento sopra nesses instantes
em que o meu olhar
bebe a luz dos teus.
A vida se detém.
Dor nenhuma alcança.

Depoimento

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A curva do meu sonho
contorna a tua estrada
e estagna onde descansa a tua alma,
quieta.
Múltiplos são os meus olhos para enxergar
a tua serenidade
e o teu exílio em mim.
Eu sou a minha nuvem mais densa,
a mesma que derrama chuvas
sobre os teus desejos.
Sou o vento que sopra em teu rosto
um resto de infância,
de terra molhada,
capim novo
incendiando o dia.
Venço a angústia e o medo.
Espalho meu verso e ,renovada,
circulo em torno da vida,
leve,
livre,
simples.
Filha do sol e da lua
nas rotações silenciosas do amor.

Exaustão

terça-feira, 23 de junho de 2009

O sol estático nos ilumina,
nossa careta viva, nossa sina,
nossa indefesa,lírica visão.
Rumor de mar nas ruas e nas casas,
casas sem portas, superfície rasa,
esqueletos de infância em combustão.

O sol, lunático, nos atenua,
nossa ferida, nossa rosa nua,
nosso inimigo, nossa mesma guerra.
A nossa ausência,nosso grão de milho.
A nossa crença, o nosso estribilho,
o que se pensa que acerta e o que se erra.

O sol extático nos contamina,
a nossa dor sem som, nossa ruína
nos atropela em cheio o coração.
A nossa chave para abrir respostas,
a nossa calma, essa candura morta,
no oceanomundo de nossa exaustão.

Por nós

E assim correremos pelo mundo:
olhos abertos,
mão na mão,
almas lavadas.
Subiremos no alto, mais alto ponto de uma montanha
e tocaremos o céu.
Dormiremos nas nuvens,
estaremos em paz.
Dançaremos por nada,
viveremos por tudo
morreremos por nós.

Poço fundo

segunda-feira, 22 de junho de 2009


Se o sol nos afaga com a luz,

com o perfume nos fala a flor.

Com as nuvens nos fala o tempo,

com a chuva, nos fala o amor.


Viagem definitiva,

mistério a nos envolver,

no cumprimento da vida

tão linda no alvorecer.


Não sopra mais nenhum vento

na plenitude do mundo.

Fresco abismo de cimento,

a cal desse poço fundo.


Inda há mais um inverno,

inda em mim mais um verão.

Encardido do que é terno,

rangendo essa solidão.

Recado

domingo, 21 de junho de 2009



Se quiser voltar, me avise,

talvez meu olhar precise

de algum aviso ou sinal.

Não chegue subitamente,

pode ser que eu não aguente

a tua volta de vendaval.


Não me chegue de repente,
sem que eu controle essa mente.
Meu amor, mande um recado
no bico de um passarinho.
No correio do caminho
teu beijo ficou selado.


Não me chegue assim ,de leve,

se o meu peito pusa breve,

vai morrer se acelerar.

Tua presença é lua cheia,

afaga, aquece, tonteia.

Me avise se for voltar.

Vou voltar.

Vou voltar
pelos mesmos caminhos.
retirar os espinhos,
avivar a saudade.
No seio da tarde
reabrir as feridas.
Revirar minha vida
pelas mãos da verdade.
Vou voltar
desatando correntes,
e matando a serpente
que me faz infeliz.
E a cicatriz,
que é um vírus mordente.
Vou banhar de aguardente
esse mal de raiz.
Vou voltar,
desatando os meus nós,
e soltando essa voz
na fronteira do amor.
Vou voltar
as porteiras abertas.
As trincheiras desertas,
Os atalhos da dor.
Vou voltar,
reabrindo as janelas,
os portais, as tramelas,
atiçar meu vulcão.
E o perdão,
que é um portal de aço,
a remir meus fracassos,
no vibrar da canção.
Vou voltar,
refazendo os abraços,
me envolver noutros braços,
e plantar nova flor.
Vou voltar,
mais segura e serena,
tem que valer a pena
inventar outro amor.

Saudade

Ave que voa rasteiro
dispersa,
sombria,
irisada pelo sol da manhã.
Provoca calafrios,
goza profundamente
ante a nossa fragilidade.
Dor fria e imóvel,
ata o nosso destino:
consolo áspero.
Compacta como a noite,
a saudade,
constelação de sonhos,
insaciável, deixa oca a nossa cabeça.
Masturba a nossa inocência
e o nosso coração, oceano humano.
Azinhavra a nossa pureza
e atropela o nosso orgulho.
Faca de dois gumes.
É morna e é quente.
É dura e é terna.
eternamente saudade.

Lua

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Lua que paira na rua
eu fico na minha
e você, na sua.
Jogue pra mim teu beijo,
atice o meu desejo,
Ó, lua de flor.
Que eu sou frágil, sou menina,
lua de sonho e rima,
lua do meu amor.
Enquanto, à noite, eu moldo
a minha arquitetura,
saio de encontro ao teu brilho,
luz e calor.
E deixo no ar um aviso:
incandescência é preciso
eu bebo o seu sabor.
Enquanto a noite me acolhe,
eu deixo um pedido: me enlace,
não durma,
ó Lua,não chore,
que eu conto com o teu amor.

Esperança

Um fiapo de luz
atravessa a cortina
e entra,
sorrateiramente,até onde eu estou.
Toca, toca, levemente,
ilumina todo o espaço.
E eu fico assim, cintilante,
até que rompa o instante
e eu a carregue em meus braços.

Ciúme.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

"Onde estiveste de noite"
que não chegaste mais cedo,
que te deixaste na rua?
Amor,tão frágil brinquedo.
O amor, que é tênue, que é um fio,
deixa os cabelos molhados,
corre, escorre feito um rio,
carente, desgovernado.
Onde deixaste teus pés
e penduraste o teu grito?
Lembra: O amor é infinito
e o ciúme, desgovernado.
"Onde estiveste de noite"
que não deixaste um aviso?
Sonhando, talvez, com a lua?
Inventando um paraíso?
Viva a santa liberdade,
ser livre, também machuca.
Onde estiveste de noite,
que despertaste o ciúme?
"A liberdade termina
quando a saudade cutuca."

Semeança.

Com um grão de melancolia
e em terra de cimento,
eu planto a minha poesi
no vento
Com um punhado de saudade
e um resto de esperança
eu planto a minha ansiedade
na dança.
Com uma réstia de paixão
um anelo, uma aliança,
eu envolvo a solidão
na trança.
Com um grão de esquecimento
meio luz, meio vingança,
eu bordo o meu pensamento:
semeança.

 
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