Limite

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A morte ronda os meus olhos.
Susto... trauma...
No limite do corpo a saúde do espírito.
O soco no estômago,
O frio do escuro.
A noite eterna em meu dia
vicia
e alinha
o tédio ao sono
e o sono ao medo.
A morte ronda o meu corpo.
E anula
o afago,
a carícia,
a delícia de sabr-me flora,
a malícia de saber-me fauna
no cio.
A agonia
cria a espera do amanhã
nos vestígios do ontem,
tão bifurcado no hoje.
No anseio da entrega
absoluta e serena,
encontro-me viva
e dona só de mim e dos meus engasgos.
O trote,
a cilada,
a voraz emboscada que inaugura os sonhos,
antes do adormecer.
Lenda viva?
Acalanto?
Onde em mim pulsa o coração?
A morte ronda os meus passos.
Desfaço
o corpo da amente
e planto-me,
do fruto a semente
esquecida sobre o chão.
Meus passos passeiam luas
no breu da escuridão.

Marilia Abduani

- Revoada

sábado, 29 de agosto de 2009

revo2

Vou onde a vida leva
fugindo, às vezes de mim,
sonhos antigos carregam
as flores do meu jardim.

No portal do esquecimento
flores sofriam por mim.
Saudades, no mar navega
meu amor frágil e sem fim.

Sigo onde voa a alma
na boca, um beijo ateu.
O tempo goteja, acalma,
flecha de luz no breu.

Com o barro do esquecimento
moldei a minha antologia.
Emoção, passou o vento:
revoada de poesias.

Música: Marcus Viana

Poesia de Marilia Abduani - www.mariliaabduani.blogspot.com

Postado por Amilton Passos - www.amiltonpassos.com

Retrato

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Seu retrato-espelho do meu sono
no confronto enfraquecido do meu tempo.
No ferir do peito, a dor desse abandono
que comanda emoção e pensamento.

Que refaz no coração doce ferida
no silêncio da canção e da lembrança.
De uma essência que ensopou a nossa vida.
Estendida sob o sol, toda a esperança.

Quanto mais próximo o sonho mais é lenda
que se atrela à realidade, frágil prenda,
na saudadeque se achega- é o vento.

Como flores murchas, secas, vagam tristes,
Não há terno coração que não se renda
ao portal de amor e dor do esquecimento.

Marilia Abduani

Ausência

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A dor amarga o sonho,
recolhe as lembranças,
decepa a esperança,
prenuncia a solidão.
Éramos o mesmo poema,
sacudíamos o mundo,
sem o tédio do descaminho,
o terror do desabrigo,
o medo da desesperança.
Éramos amor e luz.
Agora é noite.
Jaz o sol.
Cessou o cantar dos pássaros,
o soprar do vento.
A minha mão, gelada, toca o vazio.
A voz estéril da saudade dorme e acorda comigo,
enquanto o teu corpo ainda repousa em meus olhos.
Do fundo de tua ausência eu me edifico,
pálida rosa,
espalhando o teu perfume,
recebendo o teu orvalho doce, manso e silencioso.

Marilia Abduani.
À poetisa Jane Rossi.

Revoada

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Vou onde a vida leva
fugindo, às vezes de mim,
sonhos antigos carregam
as flores do meu jardim.

No portal do esquecimento
flores sofriam por mim.
Saudades, no mar navega
meu amor frágil e sem fim.

Sigo onde voa a alma
na boca, um beijo ateu.
O tempo goteja, acalma,
flecha de luz no breu.

Com o barro do esquecimento
moldei a minha antologia.
Emoção, passou o vento:
revoada de poesias.

Marilia Abduani

União

A mão
sozinha
não brinca,
não toca,
não produz nenhum som.
Mas, de repente,
se uma outra mão se aproxima,
e num compasso
lento e leve
tocar,
é som,
é música,é o som de uma mão
batendo em outra.
A mão
em par.

Marilia Abduani

Velha canção

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O vento sopra no silêncio das varandas,
e o pensamento vai brincando de sonhar.
A vida passa, lembro o tempo das cirandas,
e das estrelas que eu insistia em contar.

Navega a vida num barquinho de brinquedo
que a enxurrada da idade carregou,
e o sabiá , que dedilhava em meu peito,
os sons que vinham lá do meu interior.

Vem a saudade, traz o gosto da infância.
Tantas lembranças, noites quentes, meu amor,
Eu sou o fruto, a raiz, velha criança,
que ainda acredita no milagre de uma flor.

E hoje, aqui, velha e cansada do caminho,
mãos calejadas pelo tanto que lutei,
ainda ouço as canções dos passarinhos
fazendo ninhos nos caminhos onde andei.

Vem a saudade,traz o pranto que consola,
minha viola vai espantando a solidão.
Eu sou um velho passarinho na gaiola
cantando sempre a mesma e velha canção.

Letra: Marilia Abduani
Música Marcus Viana

Passagem

Voa a vida, pálida ou segura,
doce, amarga, leve ou não, o que isso importa?
um soprar de vento, um pulsar de brisa,
atravessa o novo sol que nos transporta
Resgatar a fé em Deus, a fé na vida,
preso o corpo, livre a alma que desliza.
O perdão, dentro de nós, se faz a porta.

O amor é esse universo de palavras
que se juntam e se derramam na amplidão.
É a força, a direção, a paisagem,
é o tempo, a poesia, a direção.
Voa a vida, como o vento leva os sonhos,
e depois, tão somente, paralisa,
adormece no jardim do coração.

Marilia Abduani

Ave noturna

Ave noturna,sou vento que passa,
no doce bater das ondas do rio.
E, como o amor todo ódio embaça
meu corpo vai dando rasteira no frio.

Eu vou mandar esse choro pra longe
meu coração na candura do estio.
Sou como o tempo que passa e vou onde
meu corpo se esgota na força do cio.

Só levo a poeira da estrada que invento,
meu corpo me leva, pra onde eu não sei.
Coragem na mala, no peito um lamento,
Sou ave cigana, sou bicho sem lei.

Onde quer que eu ande, é só de passagem
seguindo o deserto meus pés baterão
em curvas, desvios, em nova paisagem
Eterna viagem, sinal de paixão.

Marilia Abduani

Leveza

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Livres as mãos sou vento.
No abandono do espírito, sou a leveza do voo.
Nasci da fonte, sou água serena e doce.
Caminho deixando rastros de estrelas.
Ou fogo?
Luzes nascem dos meus olhos
e criam formas nas paredes do coração.
Nesses instantes,
eu sinto que o mundo inteiro
desmaia
na palma da minha mão.

Marilia Abduani

Plantio

Pela rua
deixo rastros.
Flores plásticas,
rosa estática
a deixar um perfume no ar.
Pálida, a lua,
se inflama e se agita.
E bem mais bonita,
desanda a brilhar.
A estrela cadente
saliente fica.
Cai, reluzente,
pra tudo enfeitar,
boneca de pano,
vestido de chita,
me faço bonita
querendo brincar.
Pela estrada
deixo traços.
cálido abraço,
sonhos mágicos
deixando um aviso a dizer:
Colha uma idéia
e solte-a, ao vento.
Ela há de dar frutos,
fartos sentimentos.
A voz da poesia
há de florescer.

Marilia Abduani

Desatino

Inda tenho das planícies orvalhadas
o cheiro bom que me sufoca de prazer.
Inda carrego a escuridão da madrugada
da noite fria em que fiquei sem ter pra que.

Teu vulto acende a lamparina do meu medo.
Teu corpo é o leito onde se esconde o sonho meu.
Eu sei teu cheiro, teu perfume, teu tempero,
vou te buscando entre os umbrais de vários céus.

Inda tenho das montanhas reluzentes
a luz confusa que me faz estremecer.
Quero a difusa luz que nasce dos teus pelos.
Quero viver do teu abraço até morrer.

Teu sono acorda o meu cansaço em plena noite
eu sei, teu beijo é que incendeia a plantação.
Deixo meu sul pra te seguir por outros nortes
num desatino de morar na tua mão.

Marilia Abduani

Ponte

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Eu sou a semente e a poesia que borda e recria a luz do luar.
Sou parte da fauna, sou flora, sou vento e cascata, sou ave a voar.
Eu faço e desfaço o meu pranto
Meu canto te cura e te faz respirar.
Sou ponte, sou mar, cachoeira.
Sou sol, ribanceira, sou chuva a jorrar.

Desfaço as amarras e o pranto, semeio o meu canto pra ouvir teu cantar.
Meus olhos de mel e doçura são frutas maduras pro teu paladar.
Sou parte da tua verdade,
da tua saudade, dos sonhos em flor
Sou parte da tua esperança,
eterna criança, seu frio e calor.

Recolho os entulhos do vento, exalo um lamento a te surpreender.
Portal refletindo os meus olhos,
meu riso acalma a saudade a doer.
Sou parte do rio que foge pras bandas do norte
e deságua no mar.
Sou carne, sou bicho, sou gente,
sou garras e dentes, cigarra a cantar.

Marilia Abduani-Letra
Marcus Viana-Música

Tara

Debaixo dos lençóis os corpos quentes
mas um grande abismo nos separa.
Coração- portal do corpo-amor e mente
confundem-se ao som da nossa tara.

E vai ficando indecente a minha cara
nas paredes invisíveis da loucura.
São dois corpos, um deles não tem freio
e atiça, treme, goza e sae tortura.

Somos dois corações na mesma cama
se um para, o outro se derrama,
e se espalha no colchão, triste e incerto.

Debaixo dos lençóis os nossos gritos
no orgasmo irracional e irrestrito.
Depois ca cama, o resto é só deserto.

Marilia Abduani

Evidências

São outras evidências que eu procuro
um salto indiável obre o muro
um grito ao vento, berro que estilhaça.

O espelho redescobre o meu assombro.
O peso do mundo sobre os ombros,
o tiro a esmo entrecortando a praça.

São outras evidências que eu componho
a mão que apaga a luz acende o sonho,
na exatidão do gesto de carinho.

O eco do meu passo imaginário,
exala, sem nenhum itinerário
na fonte do deserto em meu caminho.

São tantas evidências que eu persigo.
Meu corpo vai seguindo , a sós, comigo
suspenso num silêncio quase audível.

Que eu sinto em minha pele a eternidade.
Que a vida pulse em mim a liberdade,
seara de poesia indivisível

Marilia Abduani

Claras Minas

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Raia o sol, enquanto a lua dorme,
vem, saudade, que ainda estou de pé.
Rompe o dia, mais uma noite morre.
Vem, poesia, faça o que quiser
Clareou, outra emoção que nasce.
Nova estrada, velhas direções.
Esperança, nova fé renasce
nos quintais de tantos corações.
Pé na vida, sigo em frente.
Cada dia uma paixão.
Fé na luta, simplesmente
a riscar meu coração.
Claras minas das gerais que eu amo
água clara, cana, enxada e amor.
É o café, o feijão que vão brotando
pelas mãos desse trabalhador.
Meu suor molhando o leito
dessa terra em aflição.
As sementes do meu peito
se derramam pelo chão.
Cai o sol, a lua vem chegando
sono e frio, quero o teu calor.
Descansar meu coração sangrando
nas estrelas do teu céu de amor.
Mão na mão, vou sem receio
apertar teu corpo em mim.
E fartar-me em teus anseios
num amor que não tem fim.

Letra: Marilia Abduani
Música: Marcus Viana

Lua de Pranto

Lua de pranto
chora num canto
amores vãos.
-Ó Lua de encantos
não chores tanto,
o céu é teu manto.
Brilha na amplidão.
Amanhã, bem cedinho
há sol novamente,
luz incandescente.
Dores passarão.
Marilia Abduani

Faro

Os finos dedos do tempo
apertam
todo frágil sentimento
que desponta da emoção.
Um rastro de amor goteja
do telhado da esperança.
Vista nenhuma alcança.
Segue em qualquer direção.

As ágeis pernas do sonho
contornam
nossos corpos embutidos,
sentimentos repartidos
entre a loucura e a razão.
O faro animal circula
em nós, a fera, que ovula
entre a vingança e o perdão.
Marilia Abduani

Avesso

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Uma parte de mim, que não conheço,
me convoca a inventar novo caminho.
Uma força há em mim, e eu não meço,
e adormeço entre leões e passarinhos.
Vou remando pelas águas do futuro,
o passado é o portal para o presente.
Tantas vezes não me acho, e se procuro,
é saudades de mim o que a alma sente.
Uma parte de mim que não esqueço,
me constrói e me transforma. É o avesso,
e se ontem eu era pedra, hoje sou flor.
E traço com meu braço o meu desejo,
eu mesma o meu abraço, eu mesma o beijo.
Sou o fruto e a raiz. Eu sou o amor.
Marilia Abduani

Andança

Para onde me leva o vento?
Pelos distantes países,
espalha velhas raízes
do coração velho e só.
Para as entranhas da sorte,
lá para as bandas do norte,
estradas de pedra e pó.

Para onde me leva o tempo?
Para oásis distantes,
para campos verdejantes,
para o futuro? Não sei.
O sonho conduz meu passo.
Saudade - um fino traço
de tudo que mais amei.

Marilia Abduani.

- Caminhos

domingo, 16 de agosto de 2009

2008 0 7 12 037 by passosPor tantas estradas
meu canto me guia.
Sereia na noite
vertendo poesia.
Sou anjo, sou fera
razão, sentimento.
Sou rio, cascata
de brisa e de vento.
Por tantos caminhos
meu barco navega.
Meu sonho descansa
saudade me leva.

Marilia Abduani

Semeadura

sábado, 15 de agosto de 2009

As mãos do vento
ensinam a lição da raiz,
varrem a noite
e a manhã renasce
clara.
O sol fecha o mundo
em seu abraço
e a tudo aquece como bênçãos.
O sonho alimenta a alma,
é uma estrela cadente que cai
e se espalha no infinito do coração.
Resta-nos a semeadura e a colheita.
Resta-nos a esperança.
O sonho inaugura a vida.
Fica em nós a semente.
Marilia Abduani

Coração menino

Pulsa em meu peito
um coração menino,
carente,
buscando afetos.
Que vê nas flores
a essência da vida,
as interrogações do presente.
Que traça planos de voo
e vê a asa partida.
Que ensaia caras e bocas
e desata em pranto,
perdida.
Pulsa em mim uma criança
que grita em silêncio,
que fecha os olhos para a maldade,
que sai por aí
buscando brinquedos,
nas lendas de fazer dormir.
Marilia Abduani

Antes que seja tarde

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Antes que seja tarde
invente novo estribilho
plante árvore, faça um filho
rompa oo hímen do perdão.
Destrave as linhas da aurora.
Engula o que lhe devora
desate o seu coração.
Antes que seja tarde
retoque a sua coragem
decore a sua paisagem
e abra teu peito em flor.
Ame, cante, beba um vinho,
polinize o seu caminho
Seja sonho, seja amor.
Antes que seja tarde
afine o seu instrumento,
aprenda a lição do vento
que toca sem machucar.
Renasça da sua história
o passado é só memória
A vida é pra se cantar.
Antes que seja tarde
escreva a sua poesia,
o sol nasce a cada dia,
sempre chega outro verão.
Do ventre da madrugada
desponta, radiante, a estrada
que leva ao seu coração.
Letra: Marilia Abduani
Música: Marcus Viana

Metade

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Metade de mim é forte, é festa,
flor do campo, luz do sol, sereia ao mar.
Mas a outra metade é incompleta.
Descrente, desvairada, flor deserta,
navegante dessas noites sem luar.
Metade é pulsação, é toque e alento
apaziguando guerra, anunciando os dias.
Metade traz no olhar lições do vento
no corpo, só calor e movimento,
na mente um universo de poesias.
Metade de mim guarda o futuro
nas conchas das mãos recebe a vida.
Desponta do horizonte outro verão,
do amor aprendiz nasce a paixão,
comovente, carente, retraída.
A outra metade não tem norte,
hálito da dor transforma o sonho.
Em brancas nuvens passa, infeliz.
Metade faz de mim vírus mordente,
mas a outra é radiante, transparente,
mata a sede, revigora. É feliz.
Marilia Abduani.

Enquanto o amor não vem

Enquanto o amor não vem
abro as janelas,
desfaço nós,
arrumo salas e quartos,
pinto paredes,
renovo flores,
e deixo o sol entrar, tímido, manso, quente.
Enquanto o amor não vem
brinco com pássaros,
desenho nas paredes a
história dos amante,
organizo os sonhos,
fabrico poemas.
Quando o amor chegar,
estarei livre,
pronta,
a alma nas pontas dos dedos,
cruzando abismos,
poetizando o nosso caso.
Coração equilibrando-se no arame do sentimento.
Quando o amor chegar
estarei com asas,
e irei até onde soprar o vento.

Marilia Abduani.

Capim novo

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Através das sombras inatingíveis
surge vento manso.
Grito vazio sulcado de ausências.
Distâncias inertes.
Abandono completo.
No tempo vivido
a dança das flores
a fuga do sol no findar da tarde.
O calor dos sorrisos, o contar das horas
atiçam
vendaval de medos.
Sonho em nosso orgasmo.
Hoje é ontem na diversidade do futuro.
Confissão e toque
fertilizam o sêmen da angústia,
fecundam o ventre da aurora.
Éramos luz antes da sombra .
Éramos canto e dádiva.
Do baú do tempo saltam as lembranças.
Da vida exala o perfume das manhãs,
mofo e solidão se esvaem na noite.
Fica, apenas, no ar, o cheiro de capim novo
anunciando promessa de tempo bom.
Marilia Abduani

Agora é tarde

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Agora é tarde.
Esqueço os versos
e componho outras formas de soltar os sentimentos.
Afloram inspirações.
Da boca contorcida e tosca,
saem faíscas de sonhos que desmaiam ao redor de mim
e caem no papel.
Chegam até onde mora o outro, esse outro que passa
indiferente, oco, triste e só.
A caneta não suja as folhas`.
Palavras voam, mudam o itinerário,
envolvem a vida no que há de mais terno.
O murmúrio da alma é o segredo do mundo,
a sete chaves guardado,
a sete chaves esquecido
no mais íntimo instante em que a emoção vence a razão
no decifrar do enígma chamado vida.
No apagar das luzes e no acender de espelhos,
eu me decifro ou me abandono ou me amo ou me esqueço
entre as imagens refletidas
e tão indiferentes.
Agora é tarde.
Solto as rédeas do verso e lá se vão os poemas.
Marilia Abduani

Alma

sábado, 8 de agosto de 2009

A alma do poeta,
razão e mente,
murmura palavras
e as entrega ao papel.
O vento leva pra longe
todos os sentimentos ali expostos,
dispostos cuidadosamente
no branco.
As mãos do poeta tateiam
o infinito,
aquarela de letras ,
nasce o poema.
Marilia Abduani

Estrela cadente

Caiu uma estrela cadente,
fiz um pedido no instante.
Coração ficou silente
dentro do peito amante.

Disse a estrela: segue atento
que o amor é um aprendiz.
Eu vou aonde leva o vento
sem paragem e diretriz.

E eu fui seguindo o seu rastro,
o meu corpo iluminado
pela luz que vinha dela,
meu caminho resguardado.
E embora rompesse a noite,
a estrela cadente luzia.
E trouxe consigo a sorte,
tempo brando, calmaria.

Estrela, cadente estrela,
bebo a luz do teu clarão.
De longe, inda posso vê-la
luzir em meu coração.

Marilia Abduani

Espaço

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Eu flutuo no tempo improvável,
no interminável tempo
e ainda me mantenho atenta, ressequida de sombras.
Antes, eu trazia o medo pendurado nos ombros
nas solidões varadas.
O tempo foge.
Impossível prender seus rastros
expostos na madrugada.Há gritos vindos do nada,
fantasmas rondando as ruas, pedradas riscando o ar.
E eu sei que estou acordada,
saindo de mim pra correr,
te encontrar.
Apatia.
Doentia lentidão, íntima represa.
Sou de areia e pedra, luz e dia,
fantasia presa.
Eu amo esse espaço morto.
Gosto de sentir as coisas,
o encanto,
de me sentir assim, coisinha estabanada
sem brilho, sem nada, sem espanto.
Sou de silêncios, paragens,
de mel repartido.
Sou fundo de cesto de cada pomar,
de cada manhã,
nessa indizível,
improvável,
inconstante, indivizível saudade.
Marilia Abduani

Enigma

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Havia uma palavra
frágil sombra no azul do céu.
O amor viaja sempre de cabeça para baixo
levando a lua n bico e estrelas na mão.
E, quanto mais cresce,mais se agita,
ora manso, ora veloz,
ora cruelmente atroz.
Cobrindo superfícies,
abismando-se continuamente,
reluzindo,
murmurando
em forma de nuvem,
enigmas.O amor,
frágil,
protetor,
seguro e firme
como uma casca de ovo.
Marilia Abduani.

Bicho

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Se eu te gritasse,por certo escutarias
e, quem sabe, até te deixarias
aqui comigo, sem qualquer segredo.
E sob o corpo teu me tomarias.
Doida de mim, que por melancolia
me pus inteira em teus falsos medos.
Se eu gritasse , por certo me olharias
com olhos mansos de guardar magias
e eu te dormia na palma da mão.
E entre tancos e barrancos, irias
fazer do corpo meu tua moradia
e me comer como se eu fosse pão.
Na dança atenta dessa valsa fria
onde me apertas mais do que podias,
se mais que homem, te tornasses bicho.
E me mordesses, como em orgia,
e a minha dor abrisses, na agonia,
como um cachorro farejando lixo.
Se eu chorasse, por certo chegarias
a se aninhar em minha fantasia
pra ser palhaço nesse meu salão.
Se eu me entranhasse em tua folia
é quase certo que me acordarias
como se acorda a noite de um ladrão.
Se eu te matasse, se por nostalgia
eu te plantasse em minha poesia
como raiz do amor, no coração.
Marilia Abduani

Esperança

Quem sabe na areia deserta
surgisse uma porta aberta,
brotasse algum grito de amor.
E que, das entranhas da noite,
rompesse a corrente da morte,
cortasse o espinho sem flor.
Quem sabe num céu transparente
surgisse uma estrela cadente
sorrindo pra lua, de novo.
E que um trem imaginário
transformasse o itinerário
tão triste e pobre do povo.
Quem sabe na rua silente
um calor incandescente
reinventasse as paixões
E que em linhas bem traçadas
o rumo de toda estrada
desse sempre aos corações.
Quem sabe na areia bruta
mais nenhum filho da santa
amarrasse a nossa voz.
E não roubasse as esperanças.
E tirasse das gargantas
os , tão bem atados, nós.
Marilia Abduani

Em mim

De dentro de mim
e da flor que brota em meu corpo,
eu tento sonhar.
Na cama do vento
o meu sonho cria asas e voa
por sobre estrelas.
De dentro de mim
e do mel que adoça o meu sono,
eu tento esperar.
No anseio do grito,
na espera,
crio formas e parto
por sobre fronteiras.
De dentro de mim
e da luz que aclara o meu medo,
eu tento esquecer
o silêncio,
a angústia.
Abro os olhos
e vejo a vida
sem vida
dentro de mim.
Marilia Abduani

Antologia

O que eu sei é que esta antologia
de mim, ah, de mim, tão desusada,
permanece sempre livre, na poesia,
cosmicamente aérea, improvisada.
Tudo o que eu sei é que esta calma fria
em mim, ai, em mim, tão desvairada,
permanece transparente, transbordante:
lua atônita, rosa decepada.
Tudo o que eu sei é que este horror tamanho
entre o real e o renovar de sonhos
permanece ainda em mim, desordenado.
O rascunho dos meus passos me destina
minha sorte, meu amor ou minha sina,
uma história sem futuro e sem passado.
Marilia Abduani

Presentes

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Te mando um carinho
no canto de um passarinho
num raiozinho de sol.
E, junto, segue meu beijo,
sabor marmelada e queijo,
embrulhado em girassol.
Aceite, é minha ternura.
É uma fonte segura,
água clara, inundação.
E ainda, com amor e jeito,
tirei de dentro do peito,
aceite, é meu coração.
Marilia Abduani

Memorando

domingo, 2 de agosto de 2009

Talvez porque no céu do amor
brotasse uma rosa deserta.
E que na chuva, essa flor,
fosse uma coisa completa.
Talvez porque na face do dia
pés descalços, rumos tortos,
e na caminhada, os sonhos
se espatifassem em mil mortos.
Talvez porque da boca triste
nascesse um grito incolor.
Ou porque essa dor sangrasse
e avermelhasse o amor.
Talvez porque um grão de aurora
gerasse uma rosa fria.
Para adormececer o pranto
de minha alma vazia.
Marilia Abduani

Anonimato

Um dia, alguém te falará de mim e te dará um verso meu, uma mágica,
um segredo que eu terei criado para fugir da solidão nos instantes de ternura ou de fé.
Contará de uma que viveu sem a angústia da espera, sem desespero, sem o terror dos loucos,guardando uma indormida saudade, um estalar de línguas, um tremer de mãos.
Uma vida madura de névoas quotidianas e infinitas,
movimento e paixão, brincando com o brilho intenso
de uma generosa decepção.
Marilia Abduani

Ave de Arribação.

O pulmão claro do mundo
pulsa na escuridão.
Minha sina, minha sorte
é sonhar por precisão.
O pulmão claro da noite
ave de arribação.
Ave, ave cantadeira,
flor primeira da paixão.

Canto pelo peito aberto,
por mim, por nós dois.
Pela ansiedade e deserto
que veio depois.
Canto pela luz do dia
que vicia a solidão.
Oela luz que me alumia
e clareia a escuridão.

O pulmão claro do mundo
repousa na tua mão.
O meu sul, portal pro norte,
minha morte, tua canção.
A justiça frente a frente
no repente da emoção.
Corações que moram rentes
porta aberta pro perdão

Canto pela nossa valsa
tão falsa, tão vil.
Canto pelo nosso amor,
tão primeiro de abril.
Canto por tantas amarras,
tantos gritos, tantos nós.
Enforcando o que foi terno
e calando a nossa voz.

Letra:Marilia Abduani
Música Marcus Viana

Lorena

Porque és a complementação dos meus versos
e de mim mesma,
porque quando chegaste e me tomaste o seio,
eu me senti gigante, dona de todo o mundo,
mãe universal da alegria,
mistério infinito.
Porque vieste de uma longa espera,
e acordaste em meu ventre para me fazer gigante,
e te dar abrigo, eu te bendigo,
Lorena,
minha pequena flor, estrela serena.
Por tudo o que és e pelo que me entregas
através de teus olhinhos inundados de porquês,
eu bendigo a Deus por tua vida e pela luz que vem de teus olhos,
afastando a dor e a treva,
iluminando o meu corpo de mãe.
Minha flor definitiva,
pérola rara.
Aurora decisiva
que meu corpo embala.

Conquista

O peso do pranto
é a medida exata
do encanto.
Marilia Abduani

Profecia

Profetas do presente
prenunciam
o que a alma mente.
Marilia Abduani

Ausência

Saudade escarlate:
lambuza
e parte.
Marilia Abduani

Luz.

A estrela inaugura a noite.
Um brilho emprestado
acorda lendas.
Descansam-se os olhos,
desfaz-se a treva do dia.
A alma voa, liberta,
e adormece nas mãos da poesia.
Marilia Abduani

Espanto

Onde anda a barata que rondava a minha cerveja,
que lambia o meu destino, língua áspera,
roçando o meu orgulho?
E a treva na esperança? O câncer no espírito
roendo a minha fortaleza, deixando-me alheia de mim mesma, frágil, demente?
Onde se esvai o meu tempo?
Onde o relógio do mundo?
Pulsa o meu instante de amar, viver e crer que os poetas permanecem
loucos
ante a sozinhez das cidades inatingíveis.
Meus pés passeiam luas, desordenados, tristes e sós.
E eu? Como desvendar o mistério das cavernas?
Como me livrar do emaranhado da morte? Meus olhos acendem a madrugada,
buscando formas e cores que mesclam entre o medo de ir e a urgência de ficar.
O que fazer com o sexo? Alienado, complexo, sem nexo,
preso na moldura de minha visão mais pura.
Se o sexo não vai bem, a angústia vivifica.
Na boca, um gosto de noite,
de grades na alegria.
A grandeza do sexo borda a nossa poesia e ela cria asas, dança rock and roll,
overdose que o corpo purifica,
lavando o azinhavre da alma, da cabeça
espessa, avessa.
Nem Freud explica!
Marilia Abduani

Tempo

sábado, 1 de agosto de 2009

Tempo que passa

amor que é viagem.

Alma voa,

contorna a paisagem.

Núvens e névoas

céu de cimento

Espelho

Seu espelho, retrato em meu sono,
na moldura envelhecida do meu tempo.
No ferir do peito, a dor deste abandono,
que comanda emoção e pensamento.

Que refaz no coração - doce ferida,
no silêncio, na canção e na lembrança.
de uma essência que ensopou a nossa vida.
Estendida sob o sol toda esperança.

Quanto mais próximo o sonho mais é lenda,
que se atrela à realidade, frágil prenda,
da saudade que se achega - é o vento.

Como flores murchas, secas, vagam tristes.
Não há terno coração que não se renda
ao portal de amor e dor do esquecimento.

Marilia Abduani

 
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