Carícia

domingo, 20 de junho de 2010

Ainda verão prece
nas malícias das manhãs.
Romaria, amor e prece
fluido que passa e aquece
suor de febre terçã.

Coberto de muitas flores
o jardim do nosso dia.
Da fruta a carícia, o beijo,
na textura do desejo
que, tão de leve, arrepia.

Ainda verão parece
no solo fértil, profundo.
Sonho tempera a esperança
lá fora a ternura dança
a primavera do mundo.

Marilia Abduani

Flora

Poética flora
aflora em meu canto
refaz a poesia
madura e macia:
alado acalanto.

Marilia Abduani

Quando o amor chegar

Quando o amor chegar
atravessando o medo
reabrindo portas
refazendo a aorta
farejando o dia
pleno de segredos.

Quando o amor pulsar
recompondo o canto
lua cintilante
campo verdejante
alma em poesia
regaço, acalanto

Quando o amor entrar
vencendo o temor
alma e sentimento
som e movimento
flor da alegria
mansidão e amor.

Marilia Abduani

Lampejo

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sonha meu coração
inspiração e canto
Que venha o cheiro da terra
o tímido vento da noite
que faz a emoção brotar.
Sombra de orvalho manso.

O véu de nuvens encobre
a plenitude do mundo
poder mágico e profundo
em seu silente clarão.
Sonhos e sons pela noite
doce murmúrio de fonte
lampeja em meu coração.

Marilia Abduani

Terra

Na terra sedenta
a água se deita
refaz a paisagem
doçura e coragem
a vida se enfeita.
No solo inclemente
renovadas flores
natureza canta
nossa terra santa
ávida de amores.
Bordas da floresta
céu e mar são lendas.
Coração do mundo
verde da esperança
colorindo a vida
em seu suspiro fundo.
Pelo chão sedento
o pulsar da vida
escorre pela serra.
Unicamente sonho
fêmea, mãe bendita,
cosmicamente Terra.

Marilia Abduani

Desejo

No escuro quarto
a sua ausência nua
a dor se insinua
latejante e fria.
Meu desejo aflora
a saudade aperta
o corpo balbucia:
-Solidão deserta.

Sonha o coração
solto o pensamento
voa a minha alma
nas asas do vento.

Pelo céu da noite
uma estrela ainda
Sempre há um novo dia
o sol jamais se finda.
Faço da verdade
lira, verso e rima
Se houver esperança
o amor não termina.

Marilia Abduani

Âncoras

Vejo a noite definhando
cerro os olhos, vejo o cais
fantasmas engolem medos
ventania, temporal.
Eu recolho a tempestade
e dela crio o meu mar.
No barquinho da saudade
deixo o corpo naufragar.
Não há tormenta que afunde
nem calmaria ou luar
o meu barco de esperanças
velejando no sonhar.
As âncoras da coragem
no fundo das águas claras
somente serão jogadas
no bojo do teu olhar.

Marilia Abduani

Clamores

O sonho passa voando
por uma clave de sol.
Húmus fecundo pulsando
no ventre da terra em nós.
A fixidez do destino
jaz no breu como um farol.
Chove inércia, eco ao longe,
tranquilo, exato e amante,
A noite-leque e lençol.
Serena, lúcida e leve
a corrente do amor nos ata,
Há em nós tanto silêncio
calma de beijo que mata.
Rio sem sombra d'água
desmesurados desvios.
Clamores da natureza
tremores e calafrios.
Soluçam meus versos na noite
vegetal: agreste o frio.

Marilia Abduani

Chove

Desbotada nuvem
paira simplesmente
tímida se encolhe
desata-se em pranto:
chove mansamente.

Marilia Abduani

Malícia

Carne acesa, vida nua,
travosa malícia eterniza
o passado de dor e brisa
a dor que é minha e que é sua.

A flor doce do desejo
no porto do mar nasceu
o sol a traçou de beijos
como, ás vezes beijamos
o sonho que floresceu.

Com uma gota de esperança
emite um canto e descansa
sem rumor, meu coração.
Um sopro de fauna e flora
até onde a vista alcança
no agreste da amplidão.

Marilia Abduani

Poesia e canção

Voa o tempo enquanto eu vejo
a vida passar por mim
a fruta no pé
a bola, o porão,
o pique lá no jardim.

Roubado o primeiro beijo,
o abraço gostoso assim.
Poesia e canção,
amor e paixão,
saudade que não tem fim.

O tempo escorre entre os dedos,
passa e não volta mais.
Saudade é tudo o que fica
depois que o tempo se vai.

No álbum dos meus
segredos
eterna recordação.
Perfume, odor,
um resto de flor,
o frio da solidão.

E, quanto mais foge o tempo,
no vento leve a correr,
o sonho, a emoção,
o plano, a lição.
É tempo de envelhecer.

Marilia Abduani

Paisagem

Eu salto a ponte da vida
até onde o rio some.
Leito de barro e areia
o meu coração passeia.
Soluço de frio e fome.

Vou pela antiga paisagem
desfiar o meu destino
o húmus da liberdade
ao sol fremente que arde
em meu coração de menino.

Seiva viva, cio manso,
enquanto a alegria grita.
No ventre da maré cheia
fecunda a flor que semeia
uma ternura infinita.

Marilia Abduani

Desejo alado

A vida repousa leve
bem onde o sol a tocou.
As vozes da alma entoam
canções de fauna e de flora:
o arco e a flecha do amor.

Jarro de flor na janela,
fruta doce, água da fonte,
ajardinando a cancela,
aberta, concisa e bela:
coração itinerante.

Nem o mais leve arrepio
nem a corrente de ar.
Fluído que passa frio
em constante preamar.
É alado o meu desejo,
bem na medida do além.
Voar...mais leve que o tempo
até onde a dor termine
e nuvens brancas ensinem
a lição de querer bem.

Marilia Abduani

Sonho primeiro

Sonho primeiro
no toque das horas.
Vagido, esperança,
é inverno ainda
na boca que cala,
nos olhos que choram.
Cavalo arredio,
galopo no vento
eco e poesia
som e movimento.
Sou ave que voa,
sou flor que se entrega
ao afago do tempo,
deixo o pensamento
ir seguindo, às cegas.
Lagoa serena
na tarde morena.
Só o amor me leva.

Marilia Abduani

Encantamento

O vento plantou a chuva,
enxurrada acende o cio.
Fecundada toda a terra,
brotaram mares e rios.
Flauta encantada do tempo
soprou uma luz verdejante,
lá fora, a vida sorria
num arco-íris constante.
Todo o destino do mundo
no verde e no azul se deita
a alma da natureza
de universo se enfeita.
Faceira, a terra, em trejeito,
abre a janela e namora
o vento que passa leve,
o tempo que vai-se embora.

Marilia Abduani

Infância

A claridade do mundo
veste de sonho a esperança.
No jardim do meio-dia
minha saudade dormia.
Eu ainda era criança.

Verão

A noite custa a dormir
para a manhã levantar
sereno doce na espreita
enche de orvalho o ar.
Brotam sons de violinos
vindos de todo lugar
É a serenata da lua
na espera do sol chegar.
O sol, preguiçoso escuta,
escova os cabelos brilhantes,
dourados fios de ouro
cobrem o dia neste instante.
Enfim, repousada a noite,
chega a manhã. É verão.
Como o sol ou como a lua
em paz, há luz cintilante
dentro do meu coração.

Marilia Abduani

Amar

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Amar é o doce mistério de tocar o céu, as nuvens,o sol.
É o mágico sentimento que nos faz dançar sem motivo,ao som das batidas do nosso coração.
É fecundar de orvalho as flores.
É ansiar pela noite tímida e sentir o toque silencioso da brisa.
É admirar o pássaro em seu voar rasteiro e sereno,orquestrando o ar com o seu canto.
É escrever poesias, procurar ouro no fim do arco-íris,encantar-se com a estrela que cai no escuro.
Amar é gostar de inverno, verão,é crer que o futuro é agora,que a chama é eterna, que o sonho é real.
É encantar-se com o entardecer,pintar o mundo com as cores da esperança e emoldurar a coragem.
Explosão de sentimentos múltiplos,indefiníveis, insaciáveis.
É brincar com o amanhã.
Amar é ser forte e fraco ,alegre e triste, tudo e nada.
É não ouvir a voz da razão. É o renovar de primaveras.
É beber em fontes invisíveis a água da liberdade.
É a urgência de ir e de ficar.
Amar é, acima de tudo a doação, o ciúme, a paciência, a angústia,o medo, a saudade.
É encantar-se com o outro e ver nele o seu complemento.
É ser louco e ser santo.
É aprender a linguagem do silêncio, das flores, do afeto.
É o exercício do perdão.
Amar...viajar por mundos imaginários,descobrir desenhos em nuvens,tocar o infinito,debulhar a melancolia.
É a conjugação de todos os verbos,a dança de todos os ritmos,o toque de todos os instrumentos.
Amar é transpirar poesias,degustar o tempo,codificar olhares e toques.
Amar é o que faz a vida valer a pena.

Marilia Abduani

 
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