Retrato

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Teus olhos - retrato do meu sono,

no espelho enfraquecido do meu tempo.

No ferir do peito, a flor deste abandono,

que comanda a emoção e o pensamento.



Que refaz no coração doce ferida,

no silêncio de canções e de lembrança.

De uma essencia que ensopou a nossa vida

Berço e jardim

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Quem dera eu pousar a cabeça
em meu travesseiro, e dormir sem temor.
Quem dera eu voar, levemente,
na estrela cadente, e em nome do amor,
eu perpetuar em teus braços,
e no teu regaço de mel e jasmim,
dormir confiante e serena, vai valer a pena,
volta pra mim.

Desponta, de vez, na saudade,
no seio da tarde, num canto de mar.
Qualquer primavera que seja,
que Deus nos proteja da calma do mar.
Quem sabe eu te encontro num raio,
nas flores de maio, qualquer coisa assim,
Sentir tua pele morena, vai valer a pena,
volta pra mim.

Desperta, entre beijos e abraços,
se prenda em meu laço de prata e luar,
Desperta em minha poesia
vai raiar o dia, vou te procurar.
Desponta nos meus descaminhos,
retorna ao teu ninho, teu berço e jardim.
Desperta, que a vida é pequena,
vai valer a pena,
volta pra mim.
Letra: Marilia Abduani
Música Marcus Viana

Anúncio do dia

O cigarro apagou
uma estrela queimou
e chorou quem sorria.

Quando o barco virou
quando o caldo entornou,
a caldeira vazia.

Quando a vida girou
quando o tempo passou
tão veloz, quem diria.

Quando o doce acabou.
Quando a festa findou,
só dançou quem vivia.

Mas , se o galo cantar,
e se o mundo acordar
na perfeita poesia.

E se a flor respirar,
quando o vento soprar,
no anúncio do dia.

E se a calma do mar
nos fizer respirar
na voraz calmaria,

E se o sol rebrilhar,
e uma aurora raiar
na mais rara alegria.

Letra: Marilia Abduani
Música: Marcus Viana

Banquete

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Ergui uma taça ao vento
brindei a chegada do dia.
Alinhei meus pensamentos,
mesa farta de alegria.

Comprei flores, luz de vela,
pano branco sobre a mesa.
Fiz convite especial:
Achegue-se, Mãe Natureza.

O banquete foi servido
Quem quiser, é só chegar.
Alimente o seu espírito,
A poesia está no ar.

Fartem-se, sonho e rima,
versos, sonetos, canções.
vinho branco da esperança
aquecendo os corações.

Sirvam-se, a casa é nossa,
e me façam companhia.
é toda uma vida em festa
no banquete de poesia

Marilia Abduani

Tecelã

terça-feira, 21 de julho de 2009

Tecelã
Me veja através dos meus olhos,
sentimentos movediços.
Meus dentes: faca sem corte.
Meu sangue: vinho postiço.
Só um gemido, um silêncio
minhas mãos em movimento.
O meu punho é o meu compasso
no traço do sentimento.
Me veja através dos meus olhos
flor da montanha sou eu.
Canoa sem rumo, ao vento
nas divergências do adeus.
Eu durmo em lençol bordado
com fios de ouro e prata.
Mas chega a boca da noite
e transforma ouro em lata.
Me veja através dos meus olhos,
e descortine a manhã.
Meu corpo de finas teias
Sou aranha tecelã.
Marilia Abduani-Letra
Marcus Viana-Música

Vagido

Uma seara de brisa
goteja das mãos do vento.
A noite devolve estrelas.
Pulsa a artéria do tempo.
Do barro dos descaminhos
fiz um jarro -água fria,
lancei ao redemoinho
meus sonhos de ventania.
Quero a linguagem dos rios,
ante a voragem do mar.
Quero o ganido da sorte
e o vagido do luar.
A noite devolve a lua:
silêncio, emoção e arte.
Lua, tímida, flutua,
no céu se esfacela em partes.
Cessa o vento.
Surge a rosa,
tímida rosa do dia.
O orvalho possui a relva
e a fecunda em poesia.
Marilia Abduani

Plantio

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Meu corpo
em teu corpo
plantou a semente.
E ao toque do vento espalhei-me paixão.
Fiapo de luz,
coloridamante,
simples, reluzente,
solto na amplidão.
Eu teço o meu sonho,
construo o meu ninho,
frágil passarinho
doido por cantar.
Fio após fio,
artesã do teu carinho,
orvalhando meu caminho
no prazer de poetar.
Marilia Abduani

Ave cigana

Ave cigana
na beira do rio,
não dança, não canta,
não sabe voar.
Luz que rebrilha
no campo vazio,
no vago arrepio
do vento a tocar.
Ave cigana,
tantos desvios,
canto vazio,
navio a vagar.
Estrela cadente
perdida na noite,
fugindo da morte,
querendo brilhar.
Ave perdida
sou eu, no caminho.
Em mim, passarinho,
só quer descansar.
No campo, nas flores
buscando seu ninho
no bico, um carinho,
no peito, um luar.
Que vento de outono,
que pranto, que engano
soprou tantos planos
pra longe, no mar?
Ave esquecida
na mão do abandono
perdida, sem dono
e não pode voar.
Ave cigana
na beira do rio,
levando no canto
canções de ninar.
Mensagens ao vento
deixando na aurora.
Sou fauna e sou flora
querendo pulsar.
Marilia Abduani

Pergaminho

Meus olhos de mar navegem
e o meu canto me eterniza
pelos caminhos do tempo:
meu sonho de sol e brisa.
Todo o meu corpo orvalha
por sobre os portais das flores,
num vento que amor espalha,
num jogo de luz e cores.
Meu corpo tece o meu sonho
na teia da ventania,
artesã da primavera,
bordo de mel a poesia.
Sou da esperança a candura,
sou da inocência, o caminho.
Meus olhos de mar flutuam
sobre as pedras do caminho.
Cada verso é uma ternura,
toda rima , um pergaminho.
Cada beijo, uma esperança,
cada silêncio, um carinho.
Nas traquinagens do vento
solto ao céu, eu, passarinho.
Marilia Abduani

Leva-me embora.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Leva-me embora contigo
para um caminho novo ou mesmo antigo,
leva-me embora contigo.
Deixa-me andar em teus rastros,
e perder-me em teus fracassos.
Ensinar-te a crer nos vivos.
Eu te prendo em nenhum laço.
Te livrarei das serpentes,
da fúria dos deuses, dos mares.
Te entregarei totalmente
a ti mesmo e a teus andares.
O porão desse meu corpo
sendo a tua liberdade.
Eu serei a sombra tua
sumindo no fim da tarde.
Não haverá medo ou luta
nessa inteira doação.
Passarei só com o meu vulto
e meu terno coração.
Leva-me contigo agora.
Não cobrarei tempo, hora.
Leva-me contigo agora.
Assim, só serei calmaria,
e nunca serei prisão.
Leva-me, serei companhia
nada mais, em tua mão.

Marilia Abduani

Canção

Calmaria
que se espalha
vira vento
na amplidão.
Tudo é pouco
e passa breve.
Tudo é louco,
é só canção.
Ventania
que se inventa
que se aguenta
sem razão.
Passos largos,
dor perdida,
repartida
escuridão.
São tão triste,
canto pouco,
mundo rouco,
sigo só.
Alegria
foi-se embora
meu caminho,
terra, pó.
Mas , bem dentro,
a dor resiste,
não desiste
essa esperança.
Vivo pouco,
pelas sombras.
Pelo nada
faço o chão.

Marilia Abduani

Lembrança

Lembrarás , certo dia, de uma
parte de vida desintegrada.,
de um abraço sonhado a esmo.
Lembrarás de um sorriso
que partiu-se em versos,
só para ter-te em segredo.
Pensarás também em mim, alma tonta,
e de uma alegria inventada
só pelo teu canto.

De um coração repartido
para entregar-te a metade.
E de meu corpo perdido
em tua inconstante saudade.

Marilia Abduani

Por teu amor

Por teu amor eu semei o vento
só pra provar à minha alma pura
que nem a distância é mais que esse momento
em que meu corpo todo te procura.

Por teu sorriso inda tremo, inda ardo,
me desentendo, me engano, me esqueço.
Que nem percebo teu sangue em meu fardo
numa fadiga que eu morro, adormeço.

Terei da angústia os destroços incertos
e da da alegria a visão de desertos,
por tua ausência a canção se desfaz.

Terei somente na vinda do dia
a névoa branda da melancolia
na audição do silêncio ondes estás.

Marilia Abduani

Conflito

A vida é sempre um renovar constante
de primavera, sonho e sentimento.
É calor que se refaz a cada instante
é arte, som ,amor e movimento

É mar confuso, às vezes, calmaria,
onde o humano coração flutua.
e vai bordando ,dentro em nós, melancolia
que nos redime, atraca e atenua.

A vida, no dorso do seu tempo,
estupra o nosso sonho e some ao vento,
ovula de seu ventre a nossa voz.

Vida baça, nos convoca e nos redime.
Sublima o tempo,nos salva e nos oprime
boceja e dorme: Hoje é ontem dentro em nós.

Marilia Abduani

Olhos de mar

quarta-feira, 15 de julho de 2009

No tempo que passa,
na ave que voa,
na lua que embaça,
no amor que perdoa,
eu perco os teus olhos
no claro dos teus
teus olhos de vento
de pranto, de adeus.
Na brisa que toca,
na flor que enternece,
recolho meu sonho
saudade me despe.
Recolha o meu medo
Ó olhos de mar.
Há um pote de ouro
no fim do arco-íris
que é o teu olhar.

Marilia Abduani

Caminhos.

Por tantas estradas
meu canto me guia.
Sereia na noite
vertendo poesia.

Sou anjo, sou fera
razão, sentimento.
Sou rio, cascata
de brisa e de vento.

Por tantos caminhos
meu barco navega.
Meu sonho descansa
saudade me leva.

Marilia Abduani

Lá de onde eu venho

sábado, 11 de julho de 2009

Espalho meu verso na relva
deixo a paz sobrevoar.
Lá no lugar de onde eu venho
a própria vida é um cantar.

Faço a minha casa de palha,
quero a luz de um lampião.
Lá no lugar de onde eu venho
qualquer animal faz canção.

Deixo uma rede escondida
nas árvores livres ao ar.
Lá no lugar de onde eu venho
o mais bonito é plantar.

Quero a chuva, quero o mato
e na grama adormecer.
Lá no lugar de onde eu venho
nada é preciso esconder.

O cachorro no terreiro,
as galinhas no quintal,
Lá no lugar de onde eu venho
liberdade é coisa normal.

Se quero comer, pesco um peixe
ou vou à horta colher.
Lá no lugar de onde eu venho
é tão fácil sobreviver.

E as serenatas que os sapos
pra que eu adormeça farão.
Lá no lugar de onde eu venho
qualquer animal faz canção.

Meu violão, sem repouso,
vai cantar pro mundo ouvir.
Lá no lugar de onde eu venho
nem é preciso dormir.

E à noite, contando estrelas
esperarei meu amor.
Lá no lugar de onde eu venho
nunca é preciso ter dor.

Apresentação

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Nasci do canto
varei o escuro
não mais me acho
nem me procuro.
Me entrego à vida
cadê meu norte?
Não temo a vida
nem vivo a morte.
Busco meu ouro
no fundo poço;
Quero sair,
com licença, moço.
Escrevo na pedra
faço canção.
Deito na relva,
viola na mão.
Meu grito de alarme
é voz dividida.
É grito sem eco,
é dor repartida.
Cigarro deixando
fumaça no ar.
cachaça queimando
meu vã despertar.
Cadê as saudades?
E as tardes, cadê?
Tamanha incerteza
vem de você.
Morri no pranto
tremi de frio
Não mais me encontro
nem me avalio.
Me prende a fossa
cadê meu sul?
São tantas trevas
no céu azul.
Marilia Abduani-Música Marcus Viana

- Desejo

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Jamais calcularia que tinhas o sol nas mãos,
ou que teus olhos fossem vento
soprando tua claridade para acalmar
e diminuir toda tristeza.
Teu corpo, luz e emoção, adivinham madrugadas.
A estrela maior, que brilha em tuas mãos,
retrata uma calmaria que eu nem sei se tens ,mas que entregas
com cuidado, entregas.
Inclino-me sobre teus sonhos. Teus sonhos são caminhos
definitivos onde começa o desejo e explode o orgasmo.
Sei que a noite hoje é mais clara
e a manhã é como um campo onde vai chover.
No céu, pássaros anunciam o dia.
Eu sou só uma sombra ao redor de tua fortaleza.
É lição tua viver muito, sofrer pouco.
E assim em ti eu me debruço para entrar em teu corpo
intocável e secreto
onde começa o prazer através do calor silencioso.

Marilia Abduani

Maria

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Maria de suas ruas
de becos, vilas, esquinas.
Maria de tantas luas,
jovens, velhas, pequeninas.

Maria que vai com as outras
e outras Marias de Deus.
Que despontam pela vida.
Amor, saudade e adeus.

Maria, menina inocente,
carente, amante, mulher.
Tão secretas, tão demente,
Tão firmes em toda fé.

Maria, de seeus abraços,
viver é a sua missão.
Traçando essa vida a laço,
ruminando seu perdão.

Maria, amor e desejo,
magia, esperança, calor.
A boca pedindo beijo,
o corpo implorando amor.

Maria, dourada esperança.
A tudo ativa em seu peito.
Maria, irisada aliança,
meio luz, fosca e sem jeito.

Dispersa, frágil, sombria
ata e desata o destino.
Serena melancolia,
translúcido desatino.

Maria, pobre Maria,
virgem pura e obscena
lenta e solta acolhe o dia.
Névoa que paira, serena.

Baça lua, sol da tarde,
Tateia a noite, sem nexo.
Em seu peito ovula e arde
a ternura do seu sexo.

Maria, doce Maria,
circula em torno da vida.
Às vezes, flor renovada,
e outras, rosa partida.

Somos todas tão Marias
alegria, força, paixão.
Nas entrelinhas da aurora
juntas num só coração.
Traçando alguma poesia
na palma da nossa mão.

Letra:Marilia Abduani
Música Marcus Viana

Sedução

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A minha boca engole a tua.
Transfusão e tremores,
gelo na espinha,sangue em combustão.
Todo o universo se inflama, tudo ao redor se movimenta
e nosso coração dança na chuva.
As flores revestem-se.
A geometria do corpo é devastada.
Água doce
matando a sede.
A alma, em paz, pode dormir
mais leve que o ar,
mais doce que o mel,
mais livre que o vento,
mais clara que o dia.
A tua boca engole a minha
e faz nascer a poesia.

Anúncio

terça-feira, 7 de julho de 2009

A voragem do tempo engole o coração, a essência.
O vento da tarde
espalha por sobre os campos
lendas e sonhos.
Só quem se dispõe a descobrir estrelas em noite sem lua
sabe a força do sol.
Sol e lua: tão opostos e tão próximos.
O sofrimento traz o esvoaçar de flores e o surgimento de espinhos.
A dor ceifa a primavera.
Mas as noites vêm e vão.
Abre-se a porta do dia.
E, quando a manhã renasce,
o mormaço fica longe
e um vento sopra novamente
canções de anúncios de tempo bom.

Duplicidade

Não perdi a inocência.
Só estou com saudades de mim.
Do meu hálito, da minha voz, dos sons da infância abençoada,
do cheiro da chuva beijando a terra.
Saudades das cachoeiras, das árvores, sonhos.
Mergulho nas cascatas do tempo.
O piar das andorinhas acorda e atiça as lembranças
do porão da casa antiga,cheia de mistérios.
O gosto da cana, o debulhar do milho,
os amores escondidos, os beijos roubados,
coisas que, dentro de mim,
adormecem e acordam diariamente.
A menina que fui e a mulher que sou
descansam em meu coração.
Não perdi a consciência.
Mas solto ,ainda , as asas e cruzo o espaço,
coleciono estrelas,
flores, luas
pelos caminhos onde passo.
Só levo comigo a minha melancolia.

Insônia

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Suspensa no espaço,
a nossa história interminável
atravessa a madrugada.
Insônia.
O tempo passou,
a vida mudou,
mas o amor permanece intacto
entre sonhos nas gavetas,
retalhos de versos,
pólen de esperança,
chicote da saudade.
A nossa história intransponível,
transformada em poesias
inda vive em nós,
pulsando nas noites vazias,
trotando essa vida veloz.

Florescência.

Já não sou frágil.
Posso viver em constante vigília,
as pupilas acordadas,
na noite baixa, antiga,
silenciosa e indormida.
Não me sinto ágil,
mas posso sonhar nas manhãs
decisivas e únicas.
Posso crer no impossível,
enxergar os mistérios
de tudo e do nada
e viver à beira do abismo do pranto.
Já não morro tão fácil.
Ainda posso recriar auroras
na fonte de cada orvalho.
Recolher a chuva
adocicada e bendita
que molha gaivotas e girassóis,
ao sabor da terra molhada.
Acredite, já não vivo só.
Guardo em mim as neuroses, todas,
as minhas origens, os planos.
Meus olhos resmungam e eu
decifro o que eles dizem.
Na clausura da calma em que me deixo
e afogo a eterna solidão.
Eu mesma me basto???.
Concluo o meu tempo e adormeço entre flores e pedras.
Já não me sinto nua.
Visto-me de nuvens de estio
a espera de beijos.
O vento sussurra em meus ouvidos
acalantos tímidos e inocentes.
E eu me contorço em espasmos de ternura
que despem o meu pudor
e ocultam o meu corpo.
Já não sou triste.
O amor é um gato manso,
acaricia o meu verso
e a dor sorri, complacente.
Toda dor se vai.
Miando, arranhando bem leve,
esse mesmo gato manso, de total pureza,
renasce, combustão das cinzas,
e todas as sementes viram frutos,
a escuridão vira luz,
e eu floresço,
flor única e definitiva,
pérola surgida
do ventre da etern(a)idade,
no prazer do gozo consumado
e exato do meu tempo.

Insônia.

domingo, 5 de julho de 2009

Suspensa no espaço,

a nossa história interminável

atravessa madrugada.

Dívida

Eu te devo a minha cara transparente
com a vaga precisão do que foi puro.
Eu te devo ainda um grão, uma semente
semeada pelos vales taciturnos.

Eu te devo inda um segredo, um beijo quente,
e um desejo pendurado em meus lençóis.
Eu te devo uma emboscada, uma corrente
que te prende, que te enlaça, mas não dói.

Eu te devo um testamento sobre o muro
uma cara machucada, um osso duro
tão difícil, tão nocivo em seu horror.

Eu te devo ainda uma névoa de poesia
e uma luz, plena e primeira de alegria,
eu te devo o mesmo engano e o mesmo amor.

Labirinto

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sempre que fito meu rosto em teus erros
e o teu perfume em minha dor se exala
E na audição da minha voz em teus berros
a minha voz se mistura à tua fala.

Na absoluta solidão da ausência tua
eu sinto as pernas da alma retidas.
Tenho a impressão de que chegaste à lua
tal a distância destas nossas vidas.

Uma de mim te acompanha atenta
a outra te perde ante os limites rasos
e terceira nos une e nos separa.

As três pessoas que em meu corpo habitam
vão nos deixando angústias infinitas
nos labirintos dessa nossa tara.

Eu e você

O que me mata é esta distância gelada
entre os meus olhos e os teus.
É essa paixão encerrada
num chão todo feito de adeus.

É esta saudade doente que vem me roubando o sono,
Você, que antes, era o motivo
para eu saber sair do abandono.
Eu, que vivia de sonhos, navegando na ilusão,
E você, que não trouxe a surpresa, e você, que não trouxe o perdão.
Eu fazia tantos planos, que hoje, imersos, estão jogados,
você era o mais bonito dos meus sonhos acordados.

É este grito infinito, lançado no chão do abandono,
é este amor reprimido, todo marcado de sono.
É esta loucura cortante que me joga na poeira,
é esta tortura falante aos meus ouvidos,na esteira.
Esta fuga do presente, esta treva, esta caçada,
esta fábrica de sonhos que não me deixa acordada.

O que me mata é esta ilusão, quase guerra,
entre os meus olhos e os teus.
Esta paixão que se encerra
entre as estradas do adeus.

É esta vingança sofrida,que vem sumindo no nada,
e o meu olhar de criança que foi muito magoada.
É este fantasma de luto,causando torpor e medo
e junto ao fantasma, teu vulto, desatando meus segredos.
Esta afronta, esta amargura, que não me deixa feliz,
esta raiva, o desalento de querer quem não me quis.

Eu e você, que mudança,
só ficou desilusão.
Se ao menos o tempo passado
aceitasse devolução.

O que me mata é esta guerra
entre o meu e o teu olhar.
Infinita cadeia de ondas
nos jogou além do mar.

 
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