Viagem

terça-feira, 31 de agosto de 2010

O eixo do esquecimento
segura a barra do dia.
O gesto e o sentimento
girando na ventania.
Beijos de lua clara,
grão de areia no sal.
E assim meu sonho viaja
a espera do ato final.

O eixo do pensamento
distante do que não vejo,
carente do que não sabe
descrente do que não vejo.
O medo se agarra às pedras
a procura de um caminho.
O espinho não fere a rosa
nem foge a ave do ninho.

O eixo tosco da vida
é que move a nossa coragem
e molda o nosso destino
pelo prazer da viagem.
A névoa me acaricia
e move a minha canoa.
O eixo da poesia
me guia, é livre e voa.

Marilia Abduani
música:Claudio Chaves

Crepúsculo

domingo, 29 de agosto de 2010

No atar do verso
a formação do poema.
O crepúsculo beija as pedras
abre portas,
e entra em nós.
Esperança frágil, dispersa.
O rio de palavras escorre e lava as ruas.
A grande noite acena
e seca a primeira lágrima.
É quando rompem-se os espinhos do tempo.
A poesia desata-se da rosa e enfeita o chão
por onde os nossos olhos fogem...
por onde os os nossos passos vão.

Marilia Abduani

Bruma

Eu me desenho oceano
nas marés intransponíveis
no prazer inesgotável
de viver e de cantar.
Eu me reservo sonho
e me descubro gigante.
Reluzente diamante
fertilizando o luar

Eu me descrevo leque
que abre-se : bruma leve
lenço bordado ao ar.
Equilibrando o meu tempo
no fio do pensamento
num raio de luz solar.

Eu me sublimo na espera
de pressentidas estrelas
riscando a inércia das horas.
É quando a noite fenece
na nostalgia sem prece.
A alma,súbita, aflora.


Marilia Abduani

Espelho do tempo

O espelho do tempo
mostra marcas e rugas,
apascenta as dores que pairam sobre as nossas cabeças.
O canal do tempo
indica um mundo novo, digere a ansiedade, adormece a fome,
desce as escadas.
O tempo é névoa que nos toca, circunda e acaricia.É indócil como o soluço,
imponderável como o mar.
Traz em seu dorso o mormaço, desafina o instrumento do espírito, a tudo cicatriza.
O espelho do tempo parte-se, esfacala-se
e paralisa.


Marilia Abduani

Rima

sábado, 28 de agosto de 2010

O amor é um caso sério
nos faz rir e faz chorar
Leva ao céu ou leva ao inferno
faz morrer e faz sonhar.

Às vezes é sol ardente
em outras, escuridão.
E , entre razão e mente
fica o nosso coração.

O amor é um caso sério
é partir e é chegar.
Envolto em véu de mistério
ninguém pode decifrar.

É poeira em mão de vento
não se sabe a duração.
Nos resta ouvir o tempo
e a voz do coraçaõ.

De repente a gente fala
coisas que não quer dizer.
Se a palavra sai da boca
não há como desfazer.
Tudo passa tudo é sonho
a saudade nos ensina
Quando acaba um grande amor
o que fica é " raiva ou rima".

Marilia Abduani

O amor

O amor é poema e canto
que segue aonde leva o tempo.
É vela que não se apaga,
enquanto não sopra o vento.

É fruta madura e doce
no fundo lá do quintal.
É fonte, água de mina,
é o ouro do milharal.

O amor é chama que arde,
é sombra pra descansar.
É beijo de uma criança,
é rio que encontra o mar.

É ave que volta ao ninho
carinho, afago, aliança.
O amor é a artéria da vida
no coração da esperança.

Marilia Abduani

AVISO

Não desfaça a mala,
não despreze o tempo.
Limpe a sua sala,
pinte o pensamento.
Seja a ave rara,
a flor mais perfeita,.
o luar aclara:
deixe a cama feita.
Viva com cuidado
beba a sua dor.
Coma do que crê
e do que semeou.
Não apague o verso
que o amor criou.
Vire-se do avesso,
colha o que restou.
Faça agora um filho
descortine o olhar
Escreva o seu livro
A hora é de plantar.
Deixe a casa limpa
para o amor entrar.
Aja como um rio
(mesmo em seus desvios)
sempre dá no mar.

Marilia Abduani

Alma

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lava incandescente
iluminando a estrada
O primeiro grito
verdadeiro anseio
rosa destilada.
Os primeiros raios
de um sol novo, ardente,
derradeiro gesto
fogo fátuo, incesto,
só o olhar pressente.
Contador de estrelas
e de sóis distantes
no rege da vida
entre a flor e o riso,
beijos esboçados,
bocas delirantes.
No jardim prsente
rosas sonolentas,
pétalas caídas
onde o rio foge,
calmo,doce e quente.
Alma desgarrada
na noite velada
preguiçosa(mente).

Marilia Abduani

Viço

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Eu me sinto um pássaro
de plumagem leve
que revoa em torno
do teu corpo breve.
Que me chega e some
num piscar de horas.
Impensado facho,
horizonte aberto,
sol que vai-se embora.

Eu me sinto um polvo
entre mil abraços,
masturbando a noite
que se faz gigante,
que se torna amante
entre a paz e o açoite.
Como o tempo e o espaço
deglutindo a flora
que a ternura viça,
sou calor e frio,
às vezes, mormaço,
areia movediça.

Eu me sinto um pássaro
livre em mãos do vento
que a saudade atiça.

Marilia Abduani

Ave

Meu peito de ave
revoa em volta do teu beijo e mel.
É água de fonte, é fruta madura,
veloz carrossel.

Meu corpo deslisa
nas malhas da brisa, num fio de ar.
Arame farpado, o corte na veia, a ferida do mar.

Voa, coração,
cruza o céu azul do olhar.
Ave, solidão,
longe do ninho a voar.

Meu faro de fera
na caça, na espreita do sangue a verter..
Atiça o teu sonho, pressente o teu cheiro
até te prender.

Nas águas do pranto
eu lavo o meu canto e o que planto é amor.
A fonte da vida, jorrando semente
benvinda, em flor.

Marilia Abduani

Lua minguante

Dourado minuto
sutil e fugaz
secretos anseios
sidéreo receio
onde a lua jaz.
Não murches, ó Lua,
que a minha alma leve
descortina nua
pela noite breve.
Rarefeita Lua
pelo céu passeia,
mingua pelo espaço
reluzente e cheia.
Lua do meu canto,
ou do meu pranto, talvez,
lá no céu ainda brilha:
serenata, amor e lira,
rejuvenescida tez.

Marilia Abduani

Regaço

Em noites de lua
estrelas, quebrantos,
a esperança renasce.
Ao cair da noite
os sonhos refazem
a monotonia.
Nos umbrais do sono
prantos esquivos
banham de vida
a nossa alegria.
Carícias cintilam
às margens do escuro
suores desfazem
cruentos açoites.
Saudade dispersa,
lembranças cadentes
renegando a morte
violando o muro.
No regaço do tempo
adormece a hora
que só desintegra
quando a vinda do dia
leva a noite embora.

Marilia Abduani

Sinfonia da Mata.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A noite era escura
sem lua no céu.
de uma nuvem grossa
descia um véu.
Eram gotas, mil gotas
fazendo escarcéu.

Silêncio na mata.
Toró, toró se ouvia.
E, tamanho toró...
que agonia.

Porém, logo após
o tremendo toró
ouviu-se um som
que fazia assim:
tum tum tum
Da boca do sapo
ouviu-se um coaxo.
Se foi música, não sei.
Mas bem que eu acho
se fazendo de rei
rei do contrabaixo.

E, junto com ele,
outro aprendiz
esfregava as pernas,
alege, feliz.
Roça daqui,
roça de lá
saiu novo som:
Era o grilo Clarim
crim crim crim crim.

Debaixo da folha,
no galho agarrada,
ouviu-se um gemido
ou uma grande risada.
Esta não fumou
pelo fôlego se percebe.
Não conto o tempo
com medo que erre.
Só sei que demora
o som que ela faz.
É um violino
para a frente e para trás.
Sei que ela gosta
de tocar guitarra
que lembra o seu nome,
pequena cigarra.
siiiiiiiiiiiii siiiiiiiiiiiiiiii

Do alto da árvore
a maestrina vaia,
não perde a pose
nem foge da raia.
Girando o pescoço
para tudo ver
ela, que não sabe,
só quer aprender
a contar: um, três, dois,
sem deixar para depois.
Como não acerta,
emite um pio,
um seco etampido
que dá calafrio.
Pobre coruja,
dona do saber,
Fugiu da escola
sem nunca aprender.
umm umm umm
Tocando tuba
a velha coruja
logo se enturma.

O mestre carpinteiro,
roedor de primeira,
batendo com o rabo
completa a zoeira
É tum tum tum
Tá tá tá
que ecoa na mata
para tudo escutar.
O castor da batera
de noite e de dia.
Roendo as árvores
toca bateria.

Tô fraco, tô fraco
sendo assim, vou-me embora,
abria o bico a bela senhora.
Como cantora eu sou um fiasco
Da Áfica eu vim
nos tempos de outrora.
Não sabem quem sou?
Muito bem, ora ,ora,
não veem que eu
sou galinha da Angola?

Sou lisa, roliça,
sem braços nem dedos.
Muito venenosa
isso não é segredo.
Sem mão, não carrego
os meus penduricalhos
mas trago comigo
um lindo chocalho.
No silêncio da noite
causo tremelique.
a quem quer que ouça
o meu chique chique.
xii xii xii

Uh Uh Uh Ah Ah Ah
acordado, o macaco,
esperto que é,
gritou sorridente
de orelha em pé.
Pulou pelos galhos, pelos seus cipós,
a contar para os seus:
Não estamos sós.

Vários pontinhos de luz a piscar
fizeram a noite
toda clarear.
Eram vagalumes , os lanternas da mata,
a iluminar a bela serenata.
Aos pares dançavam os velhos casais
espalhando flores pelo matagais.
Dizia assustada a boa tartaruga:
Nunca dancei com alguém como tu.
Sem saber que, enamorada,
ela bailava com o mestre tatu.

-Sozinho não fico. Disse o tamanduá.
jogando o seu charme
para a cheirosa gambá.
Esta, a princípio, se queixou do fato,
mas quem não tem cão, dança com gato.
Tocando trombeta, de cbeça para baixo,
piscava o morcego para a aranha vizinha
Esta, no entanto, fitava a joaninha
que aos berros cantava para Dom Mosquito
um back vocal um tanto esquisito
Zzzzzzzzzzzzz Zzzzzzzzzzzzzzzzz.

Houve dança do vento com a brisa,
e pelas folhas, o orvalho serenou.
O Rio Claro, cristalino em sua ida,
aguava a terra, terra esta que brotou.

A noite escura então se findou
quando, lá no céu, a lua pintou
trazendo consigo estrelas mil,
formando um palco para o cantoril
A velha orquestra, linda, reunida,
cantava de tudo
em louvor à vida.


José Renato de Souza Abduani, meu maninho.

Fuga

Fujo do frio que em meus olhos arde
o cansaço contínuo, a perene solidão.
De meu sol que não rebrilha, do furor de cada tarde,
no tremor que me assassina, no tocar de outra emoção.

Sou centelha, sou vertígem, o reverso da miragem
o poder que me orienta é uma obscena paixão.
Não há fogo que me aqueça na geleira do caminho
Não há abraço, não há vinho que me aqueça o coração.

Não há mão, que ao tocar, me descubra no abandono
ou carinho que comova, no breve tocar do beijo.
A estrela que me guia é a que antecede o sono
nos instantes de emoção, no milagre do desejo.

Quero tudo e quero nada que ameace o meu sossego
no enlace de um segundo mais uma nova cicatriz
Quem revive a sós comigo? Eu me fiz meu inimigo?
Que nó cego no que invento jamais me deixa feliz?

Fujo do engasgo que me morde a mente
Da indivisível semente, do infecundo perdão
que recolhe os meus pedaços triturados por mil dentes,
o meu sangue, antes quente, se faz extinto vulcão.

Fujo da treva que me faz demente
do meu beijo de serpente ,da inevitável dor.
O cavalo que anda em mim fareja o teu suor quente
Não há fé que me oriente nos labirintos do amor.

Marilia Abduani

Entrelinhas

domingo, 15 de agosto de 2010

Abro as porteiras do dia
que entre a alegria,
que brote a canção.
As entrelinhas do tempo
saudades varrendo
do meu coração.

Beijo suave acalanta
a paz que levanta
e renasce do chão.
Corre nas veis da estrada
as águas jorradas
lavando o perdão.

Marilia Abduani

Ave

Só por teus olhos afloram
violetas na janela.
Flores simples nas varandas
a rima mais doce e bela.

Todo o segredo do sonho
que só o poeta desvenda.
Os versos entrelaçados
em meio ao lençol de renda.

Fere o tempo a madrugada
de beijos não consumados,
de peles desencontradas
carinhos descompassados.

Só por teus beijos sou flora
no orgasmo dos jardins.
Aninhada em teus braços
a ave que mora em mim.

Marilia Abduani- Letra
André Maria. Música

Veia

Canto sereno do mundo
corta caminho no ar.
No desafio do tempo
no curso do vento
que beija, ao soprar.

Canto pequeno da vida
faz nossa alma sonhar.
Na relva doce e macia
o peito desfia
as contas do mar.

Clarão de lua cheia
aquece sem mesmo tocar.
Facho que a tudo incendeia´
é fogo na veia
artéria do olhar.

Marilia Abduani

Luz e luar

Quero ser rio que canta
manhã que desponta
cigarra a gritar.
As enxurradas de estrelas
cadentes que dançam
e se perdem no olhar.
Quero ser sonho e esperança
eterna criança
que o amor desenhar.
Rosa plantada em varandas
cantiga e ciranda
ser luz e luar.

Quero uma chuva de prata
jorrando na mata
molhando a canção.
A melodia e a prece
que acalma, enternece
e aquece o perdão.
Quero a certeza mais clara,
a fruta mais rara
que já se provou.
Quero a ternura guardada
no seio da estrada,
no ventre do amor.

Marilia Abduani

Antes que seja tarde - Letra: Marilia Abduani - Música e Interpretação: Marcus Viana

segunda-feira, 9 de agosto de 2010



Antes que seja tarde

(Letra: Marília Abduani – Música e Interpretação: Marcus Viana

Antes que seja tarde

ponha o seu trem nos trilhos

plante árvore,faça um filho

rompa o hímen do perdão

desfaça as portas da aurora

engula o que lhe devora

Antes que seja tarde

desate o seu coração

Antes que seja tarde

desperte a sua coragem

pinte as novas cores desta paisagem

abra o teu peito em flor

ame, cante, beba um vinho

polinize o teu caminho

Antes que seja tarde

seja sonho e,seja amor.

Antes que seja tarde

afine o teu instrumento

aprenda a lição do vento

que toca sem machucar

Antes que seja tarde

renasça da tua história

o passado é só memória

a vida é pra se cantar.

Antes que seja tarde

escreva a tua poesia

o sol nasce a cada dia

sempre chega outro verão.

Antes que seja tarde

do ventre da madrugada

desponta, radiante, a estrada

que leva ao teu coração.

sábado, 7 de agosto de 2010

Escuto o cantar do galo
abrir as portas do dia.
À revelia amanhece
em mim, a antiga alegria.
Um vento bom sopra leve,
mas uma rosa se despe
e a passarada espia.

Meu coração abre os olhos.
Lacrimeja a minha infância,
lembrança de pura luz:
o meu tempo de criança.
Aspiro o ar da saudade,
toda a antiga liberdade
que a velhice não alcança.

O que não tenho ainda aflora
em mim,como antigamente.
A mãe, café e fogão,
o pai, a voz, o violão,
a lua das noites quentes.
O sonho, o verso e a canção
num jogo de amor e mente.

Hoje, oxida a alma
no corpo já velho e só.
O cansaço vence a calma,
a nódoa do esquecimento
transformando o ouro em pó.
Um fio de pensamento
ata as migalhas do tempo
na teia do mesmo nó.

Marilia Abduani

Enseada

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Plante no ventre do sol
uma enseada de amor
apalpe a vida ao redor
viva do que semeou.
A dor talhada no sal
nuvem esparsa levou.
Há ainda um pote de mel,
no campo ainda há uma flor.

Há sempre um raio de luz
onde reina a escuridão.
Se um amor não conduz,
outros amores virão.
Sonhe nos braços da paz
aninhe o seu coração.
A vida sempre refaz
o som de uma nova canção.

Marilia Abduani

 
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