Encanto

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Eu revejo a nosa história
nos becos e bares,
em tantos lugares,
nas tardes de sol.
Nas noites de chuva,
nu canto de rio,
o toque, o arrepio
por sob o lençol.

Eu revejo o nosso encanto
na aurora que encanta,
na flor que desponta,
no mundo a girar.
Na dança e poesia,
num brilho de lua,
e em mim, que fui tua,
te sinto pulsar.

Marilia Abduani

Flor da agonia

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Chove. Rompe a noite
onde o sol ardia.
Na manhã raiada,
a noite calada,
a flor da agonia.
Sonha a minha alma
o perdão desfeito,
o que foi perfeito
foi jogado ao vento.
Sopra agora o medo,
venta o meu segredo,
foi-se embora o tempo.
No lençol do dia
dorme a esperança,
a ternura mansa
ilusão e canto.
Hoje a estrada é triste,
hoje a noite insiste:
dor e desencanto.
Sofro o que não fiz,
tudo o que eu não quis,
o que não busquei.
Pelo vão da estrada
a saudade orvalha
prantos e migalhas
do que mais amei.

Letra: Marilia Abduani
Música : Marcus Viana

Rastros

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Estradas que longe levam
antes do dia raiar,
pelos caminhos que medram
ante os limites do mar.
Têm pedras, rios e amores,
solidão e ventania.
Arco-íris, sonhos, flores,
poeiras e calmarias.
Estradas que sempre levam
furacões e quietudes
pelos frescores do dia
soprando pela amplitude.
Longas estradas da vida,
por onde os amores vão.
Ficam os nosos rastros.
Estradas passarão.

Marilia Abduani

Adolescência

Flore no caminho
rosas sem espinhos
rebrilhar do sol.
Estrelas transparentes,
borboletas, passarinhos,
arco-íris, girassol.
Árvore de esperança,
brincadeiras de criança,
mistérios do anoitecer.
Poesias, passos de dança,
desfios, alianças,
cantigas de adolescer.
Asas agitadas,
almas irisadas,
chuvas de verão.
Portas destrancadas,
as manhãs raiadas,
o mundo nas mãos.
Primavera renovada,
sonho, flor, amor, perdão.

Marilia Abduani

Monotonia

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Brancas nuvens
moinho sem vento,
folhas secas,
frio e lamento.
Verso impedido,
desesperança,
beijo partido,
passo sem dança.
Monótonos dias,
paisagem morta,
luar sem poesia,
futuro sem porta.
Capim sufocado,
trilha perdida,
desejo castrado,
estrela caída.
Monótona sombra
esquecida no breu,
asa quebrada,
o peito ateu.
Flor desfolhada
ao bafejo do vento
não mais floresceu.

Marilia Abduani

- Conflito

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

truman1 

A vida é sempre um renovar constante
de primavera, sonho e sentimento.
É calor que se refaz a cada instante
é arte, som ,amor e movimento
É mar confuso, às vezes, calmaria,
onde o humano coração flutua.
e vai bordando, dentro em nós, melancolia
que nos redime, atraca e atenua.
A vida, no dorso do seu tempo,
estupra o nosso sonho e some ao vento,
ovula de seu ventre a nossa voz.
Vida baça, nos convoca e nos redime.
Sublima o tempo, nos salva e nos oprime
boceja e dorme: Hoje é ontem dentro em nós.

Poesia de Marilia Abduani - www.mariliaabduani.blogspot.com

Postado por Amilton Passos - www.amiltonpassos.com

 

Vagido

sábado, 12 de setembro de 2009

O hálito do vento
enche de frescor a tarde.
A multiplicação das flores,
a dança dos pássaros
atravessam a traqueia do dia.
A flecha do sol
atinge em cheio
os corações ressequidos.
O barro da desesperança
escorre feito um rio
e passa.
Fica apenas
o vagido do amor
ecoando na noite comovida,
quando a tarde cai.
Fica o ganido da emoção.
Fica exposta a poesia em varais
por onde o arco-íris desce.
Ao findar mais um dia,
a natureza silencia
e a vida agradece.

Marilia Abduani

Orgia

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Quando eu amo
é o teu amor que me faz dançar.
Se eu me dano
é só pra te clarear.
Minha música, meu olhar.

Quando a lua cai na rua e vem cantar,
vou pro sol, invento nova luz solar.
É teu corpo o meu abrigo secular.
Meu descanso pra eu dormir e pra eu sonhar.

Teu abraço força a barra da manhã,
nos teus braços sou amiga, sou irmã.
Estes mares, improvável sedução.
Mil altares nos umbrais do coração.

Teu silêncio é o que me dói, que me faz fria.
Tua ausência é dor de parto, é ardor, é orgia.

Marilia Abduani

Viajante

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Embarco nas asas do vento,
e voo
onde a vista não alcança.
Meus olhos de gaivota
gravam traços do caminho
meu coração passarinho
é livre e livre canta.
Desembarco da saudade
e pouso
borboleta na amplidão.
Meu olhar de viajante
recolhe a beleza do instante
e o prende entre os dedos da mão.

Marilia Abduani

Acordes

Eu ainda te percebo
nas planícies orvalhadas
nas serenas madrugadas
nos campos verdes em flor.
nas estrelas reluzentes
sol e lua incandescentes
nas manhas doces do amor.

Eu ainda te percebo
nas histórias dos amantes
nos acordes delirantes
tua voz canta por mim.
Em meus sonhos reticentes
teus abraços envolventes
Saudade terna e sem fim.

Fera

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A fera em mim
morde o teu orgulho,
rasga a tua verdade,
dissipa a tua prudência.
Faz e desfaz a tua vaidade,
o teu silêncio
e a tua calmaria.
Eu mastigo a tua serenidade,
o teu destino.
As minhas presas te contaminam,
veneno doce
em tuas veias.
A fera em mim é voraz.
Recolhe os teus pedaços,
atiça a tua melancolia.
e te engole inda mais uma vez.

Marilia Abduani

Amarras

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Liberdade não tem preço.
Vamos voltar ao começo
e inaugurar novo dia.
Livres das velhas amarras,
leves de tantos perigos,
soltos da dor que vicia.
O caminho que eu persigo
é voraz, radioativo,
mas é fértil em poesia.
Entorpecida, a saudade,
enfraquece, atenua.
Adormece entre mil fases
e a vida continua.

Marilia Abduani.

Alma

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Hoje já é ontem.
O dorso do tempo me convoca
a passeios diários
pelos umbrais do futuro.
Tateio o universo
estuprando a esperança
em transe.
Lentas e soltas
as estrelas dançam
sublimando a noite.
Ovula a minha ansiedade
no crepúsculo intocável
e bendito.
Hoje já é ontem.
No futuro incriado
o tempo engole a ternura primeiera
e o meu presente cochila
sobre antigas histórias.
O vento sopra.
A alma voa.
Boceja o ontem e desponta nova manhã
de ouro e prata
derramando luz em meu
exilado coração.

Marilia Abduani.

 
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