O arrepio na alma nos desarma,
o perfume da noite beija o dia.
O inexplicável mistério das estrelas
liberta a flor serena da alegria.
O insensato coração itinerante
no exato silêncio dos amantes
a linguagem do corpo acaricia.
Os passos débeis, frágeis, esquecidos,
as marcas exauridas da verdade,
as cálidas lições da consciência,
os braços, como polvos, na saudade
liberam labaredas na inocência,
a tênue lágrima, o beijo sem prudência,
na face da voraz insanidade.
As raízes da coragem criam asas,
a bofetada da noite já jazia,
a placenta de luz na ansiedade,
a obstinada paciência dorme fria.
O interminável minuto de um orgasmo,
o respirar da solidão em seus espasmos,
o tanger da mais completa calmaria.
Os temporais borbulhando na paisagem
o gris da longa espera em agonia,
As incômodas orgias, as viagens,
o nó do pranto, o espanto que vicia.
A convulsiva fome e o desejo,
a lasciva dependência: amor e beijo,
partituras livres, leves da poesia.
Marilia Abduani
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