Aviso

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ainda é tempo, foge da minha agonia,
pra que entregar-se, assim, à minha desilusão?
Eu não sei morrer de amor, vivo de minha poesia,
e se , na estrada da vida, me entrego a qualquer prisão?

Ainda é tempo, foge que sou vazia.
Se não abraço a alegria, tudo em mim é solidão.
Só sinto cansaço imenso, sinto a boca muito fria,
já não guardo fantasias, guardo apenas maldição.

Ainda é tempo, amor, que nada tenho.
Se de velhos mundos venho, só me entrego à escuridão.
Se nas estradas da vida, em nenhuma delas me empenho,
onde buscar a magia pra entregar à tua mão?

Ainda há tempo, foge de um rumo incerto.
Meu sono é um constante deserto de invalidez e de mar.
Sou apenas um navio que não tem o rumo certo
e , que em mares tão diversos, vai, sem forças, se entregar.

Foge, amor, foge que nunca é tarde.
Aqui dentro o peito arde, mas pouco tenho pra dar.
Sinto apenas muito frio, uma fome que causa alarde.
Foge , que ainda há tempo.
Foge do meu olhar.

Apatia

Eu flutuo no tempo.
No interminável, indomável tempo, cínico,
repleto de poeiras e pedras.
E ainda me mantendo atenta
ressequida de sombras.
Antes, eu trazia o medo pendurado nos ombros,
nas solidões varadas.
O tempo foge.
Impossível prender seus rastros
expostos na madrugada.
Há fantasmas nas ruas, pedradas riscando o ar.
E eu sei que estou acordada,
saindo de mim
pra correr, te encontrar.
Apatia,
doentia lentidão, íntima represa.
Sou areia e pedra,
água e vento,
luz e dia,
fantasia presa.
Mas eu gosto de mim assim:
coisinha estabanada,sem brilho,
sem encantos.
Sou feita de silêncios, aragens,
mel escondido,sou fundo de cestos de cada pomar,
de cada manhã.
Nessa indizível, inconstante, improvável saudade.

Um dia...

sábado, 27 de junho de 2009

Um dia, tudo será saudade:
a dor silente e que não sangra,
não dói visível,
a ansiedade roendo as unhas da nossa serenidade,
a solidão, que emurchece o sol
e apaga as estrelas,
o sopro do vento , as infindáveis marés,
os rios de suores nossos de cada dia,
os espinhos de nossa inocência
e a desmedida frustração de não ter sonhado o bastante.
Um dia será lembrança o derradeiro inverno em nós.
Nascerá um tempo sem névoa,
apenas banhado de arco-íris.
Alma nova, sonhos aflorados,
plasmado em rima e pleno de canções.

Oceano

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Eu me desenho oceano
nas invencíveis marés,
vento batendo nas pedras.
O tempo fez do seu jeito.:
Lagoa calma e serena
fez de mim. Assim eu sou.
Nenhum navio em meu porto,
nenhum, jamais atracou.
Lagoa serena e calma
o tempo me desenhou.
Contornou o meu destino.
Meu tempo , o tempo matou.
Marilia Abduani

Névoa

Caminho em torno de mim mesma.
Areia movediça,
vulcão encardido,
névoa que o vento desfaz.
As minhas mãos acariciam o dia que nasce.
Imponderável feito o pranto,
eu me descubro,
e me desfaço,
refaço
e me adivinho
no riso desbotado,
nos beijos sem calor,
nos abraços sem corpos,
nas lágrimas sem olhos.
É o que sei da vida:
o fechar de portas, o diluído silêncio,
o mudar de rumos.
A vida passou pela minha ansiedade
em compasso de espera.
Só assim me vejo.
Só assim me explico:
sonho, poesia,
ilusão e berro.

Canto novo

quinta-feira, 25 de junho de 2009

A alma,
bicho solto,
livre das velhas penas,
voa como pássaro assustado
pelos andaimes da imaginação.
O canto novo
repõe as harmonias
e as forças.
Enfraquecem as penúrias e os medos.
A noite paralisa e nasce o dia.
O vento dedilha canções de esperança,
enquanto nuvens claras despontam`.
É primavera novamente.

Reflexo

Decorei a tua imagem
no escuro dos meus olhos.
E o teu reflexo ficou em mim,
nítido,
a colorir o meu arco-íris com as tintas da memória.
Além desse mesmo arco-íris,
a minha alma voa,
e cochila sobre estrelas.
Nem o vento sopra nesses instantes
em que o meu olhar
bebe a luz dos teus.
A vida se detém.
Dor nenhuma alcança.

Depoimento

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A curva do meu sonho
contorna a tua estrada
e estagna onde descansa a tua alma,
quieta.
Múltiplos são os meus olhos para enxergar
a tua serenidade
e o teu exílio em mim.
Eu sou a minha nuvem mais densa,
a mesma que derrama chuvas
sobre os teus desejos.
Sou o vento que sopra em teu rosto
um resto de infância,
de terra molhada,
capim novo
incendiando o dia.
Venço a angústia e o medo.
Espalho meu verso e ,renovada,
circulo em torno da vida,
leve,
livre,
simples.
Filha do sol e da lua
nas rotações silenciosas do amor.

Exaustão

terça-feira, 23 de junho de 2009

O sol estático nos ilumina,
nossa careta viva, nossa sina,
nossa indefesa,lírica visão.
Rumor de mar nas ruas e nas casas,
casas sem portas, superfície rasa,
esqueletos de infância em combustão.

O sol, lunático, nos atenua,
nossa ferida, nossa rosa nua,
nosso inimigo, nossa mesma guerra.
A nossa ausência,nosso grão de milho.
A nossa crença, o nosso estribilho,
o que se pensa que acerta e o que se erra.

O sol extático nos contamina,
a nossa dor sem som, nossa ruína
nos atropela em cheio o coração.
A nossa chave para abrir respostas,
a nossa calma, essa candura morta,
no oceanomundo de nossa exaustão.

Por nós

E assim correremos pelo mundo:
olhos abertos,
mão na mão,
almas lavadas.
Subiremos no alto, mais alto ponto de uma montanha
e tocaremos o céu.
Dormiremos nas nuvens,
estaremos em paz.
Dançaremos por nada,
viveremos por tudo
morreremos por nós.

Poço fundo

segunda-feira, 22 de junho de 2009


Se o sol nos afaga com a luz,

com o perfume nos fala a flor.

Com as nuvens nos fala o tempo,

com a chuva, nos fala o amor.


Viagem definitiva,

mistério a nos envolver,

no cumprimento da vida

tão linda no alvorecer.


Não sopra mais nenhum vento

na plenitude do mundo.

Fresco abismo de cimento,

a cal desse poço fundo.


Inda há mais um inverno,

inda em mim mais um verão.

Encardido do que é terno,

rangendo essa solidão.

Recado

domingo, 21 de junho de 2009



Se quiser voltar, me avise,

talvez meu olhar precise

de algum aviso ou sinal.

Não chegue subitamente,

pode ser que eu não aguente

a tua volta de vendaval.


Não me chegue de repente,
sem que eu controle essa mente.
Meu amor, mande um recado
no bico de um passarinho.
No correio do caminho
teu beijo ficou selado.


Não me chegue assim ,de leve,

se o meu peito pusa breve,

vai morrer se acelerar.

Tua presença é lua cheia,

afaga, aquece, tonteia.

Me avise se for voltar.

Vou voltar.

Vou voltar
pelos mesmos caminhos.
retirar os espinhos,
avivar a saudade.
No seio da tarde
reabrir as feridas.
Revirar minha vida
pelas mãos da verdade.
Vou voltar
desatando correntes,
e matando a serpente
que me faz infeliz.
E a cicatriz,
que é um vírus mordente.
Vou banhar de aguardente
esse mal de raiz.
Vou voltar,
desatando os meus nós,
e soltando essa voz
na fronteira do amor.
Vou voltar
as porteiras abertas.
As trincheiras desertas,
Os atalhos da dor.
Vou voltar,
reabrindo as janelas,
os portais, as tramelas,
atiçar meu vulcão.
E o perdão,
que é um portal de aço,
a remir meus fracassos,
no vibrar da canção.
Vou voltar,
refazendo os abraços,
me envolver noutros braços,
e plantar nova flor.
Vou voltar,
mais segura e serena,
tem que valer a pena
inventar outro amor.

Saudade

Ave que voa rasteiro
dispersa,
sombria,
irisada pelo sol da manhã.
Provoca calafrios,
goza profundamente
ante a nossa fragilidade.
Dor fria e imóvel,
ata o nosso destino:
consolo áspero.
Compacta como a noite,
a saudade,
constelação de sonhos,
insaciável, deixa oca a nossa cabeça.
Masturba a nossa inocência
e o nosso coração, oceano humano.
Azinhavra a nossa pureza
e atropela o nosso orgulho.
Faca de dois gumes.
É morna e é quente.
É dura e é terna.
eternamente saudade.

Lua

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Lua que paira na rua
eu fico na minha
e você, na sua.
Jogue pra mim teu beijo,
atice o meu desejo,
Ó, lua de flor.
Que eu sou frágil, sou menina,
lua de sonho e rima,
lua do meu amor.
Enquanto, à noite, eu moldo
a minha arquitetura,
saio de encontro ao teu brilho,
luz e calor.
E deixo no ar um aviso:
incandescência é preciso
eu bebo o seu sabor.
Enquanto a noite me acolhe,
eu deixo um pedido: me enlace,
não durma,
ó Lua,não chore,
que eu conto com o teu amor.

Esperança

Um fiapo de luz
atravessa a cortina
e entra,
sorrateiramente,até onde eu estou.
Toca, toca, levemente,
ilumina todo o espaço.
E eu fico assim, cintilante,
até que rompa o instante
e eu a carregue em meus braços.

Ciúme.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

"Onde estiveste de noite"
que não chegaste mais cedo,
que te deixaste na rua?
Amor,tão frágil brinquedo.
O amor, que é tênue, que é um fio,
deixa os cabelos molhados,
corre, escorre feito um rio,
carente, desgovernado.
Onde deixaste teus pés
e penduraste o teu grito?
Lembra: O amor é infinito
e o ciúme, desgovernado.
"Onde estiveste de noite"
que não deixaste um aviso?
Sonhando, talvez, com a lua?
Inventando um paraíso?
Viva a santa liberdade,
ser livre, também machuca.
Onde estiveste de noite,
que despertaste o ciúme?
"A liberdade termina
quando a saudade cutuca."

Semeança.

Com um grão de melancolia
e em terra de cimento,
eu planto a minha poesi
no vento
Com um punhado de saudade
e um resto de esperança
eu planto a minha ansiedade
na dança.
Com uma réstia de paixão
um anelo, uma aliança,
eu envolvo a solidão
na trança.
Com um grão de esquecimento
meio luz, meio vingança,
eu bordo o meu pensamento:
semeança.

Razão

domingo, 14 de junho de 2009

Dentro a noite eu cantaria
a tua melancolia
e a tua desilusão

E em paz caminharia
por sobre toda a alegria
nascente em teu coração.

Eu cantaria, se voltasses
e se pela mão me guiasses
rumo a um caminho novo

E se num deserto plantasses
uma rede, um verso e ficasses
como formiga entre o povo.

Labirinto

Sempre que fito meu rosto em teus erros
e teu perfume em minha dor se exala.
E na audição de minha voz em teus berros,
Minha voz se mistura à tua fala.

Na absoluta solidão da ausência tua
eu sinto as pernas da alma retidas.
Tenho a impressão de que chegaste à lua
tal a distância dessas nossas vidas.

Uma de mim te acompanha atenta,
a outra te perde ante os limites rasos
ea terceira nos une e nos separa.

As três pessoas que em meu corpo habitam
vão me deixando em angústia infinita,
nos labirintos dessa nossa tara.

Vigília inútil

sábado, 13 de junho de 2009

Nem valeu a pena
o dia ter nascido.
O céu cobrir-se em sonhos,
em sonhos repartidos.

Nem valeu a pena
o sol nascer mais forte.
Canção virou lamento,
arruinou meu norte.

Nem valeu a pena
o chão romper-se aberto.
A flor brotar, serena,
ter cor o céu deserto.

É hora quase obscena,
não vale o amanhecer.
Nada valeu a pena
nem mesmo amar você.

João

João sonha acordado.
Sonhos pintados,
alucinações.
João, que sonha ser piloto,
alegre, livre e maroto
no maior dos aviões.
João também quer ser do mar.
Quer, como quer, navegar
num navio cor do céu.
E também quer ser poeta,
o mais poderoso atleta,
o general do quartel.
João sonha acordado.
Sonhos jogados:
destruição.
E desperta toda hora
em que olha a vida lá fora,
Tão grande pra sua mão.

Canção

Os olhos fechados,
a mente vagando.
As mãos vão girando a caneta no ar.
O copo ao meu lado, cigarro queimando,
um olho na terra e o outro no mar.
A boca se abrindo, sem tino, sem nada,
ensaiando sorrisos que estão por chegar.
A feição sombria de uma enamorada,
e no ar, em fumaça, escrito: criar.
Prisão sendo aberta, liberdade doada,
As cordas batendo em meu violão.
E nesses instantes de paz alcançada,
do ventre do eterno desponta a canção.

Dilema

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Como fica um coração maduro
de abrir portas e varar os muros,
e bater,ainda assim, acelerado?
Coração que se enternece com a poesia
e rompe a morte, desabrocha o dia,
e ainda pulsa infantil, tão compassado.
Como fica um coração dormente
entre tantas tempestades e correntes,
que prendem, tocam, ferem, sem pudor?
e que sonhos através dos descaminhos,
mas na alma sempre o eterno passarinho,
nosso íntimo e eterno salva (dor).
Como fica um coração remanescente
olhar de vidro, puro, transparente,
tão palpável, tão sensível, tão feroz?
Mãos de ferro pra vencer a morte.
Mãos de Deus, para vencer a morte.
Mãos de bênçãos sobre todos nós.
Como fica um coração carente
entre pedras e sereias e serpentes,
tão poeta, tão perene sonhador?
Simplesmente fica. E tão somente espera,
inda ver brotar do inverno a primavera
florescendo a mansidão de todo amor.

abismo

A cilada qm meu caminho
gradeou o meu carinho.
A viseira em meu peito
ofuscou-me o sonho perfeito
Um noturno sentimento
fez sombra em meu momento.
A porta em minha tristeza
deixou minha alma presa.
Um abismo em minha alegria
enegreceu a ´poesia.
A falta de amor e sorte
transformou meu sul em norte.
Armadilha em meu perdão
transformou dor em paixão.
O desatino da guerra
explodiu minhas artérias.
A chuva na noite espessa
torturou minha cabeça.
Semearam a demência
em minha doce inocência.
O medo da solidão
apartou meu coração.
Plantaram pornografia
em meu jardim de alegria.
Um sonho imprevisível
deixou trauma irreversível.
Vinganças vis, estridentes
trituraram minha mente.
Um berro em minha garganta.
Quanto mais procuro a vida
mais a morte se agiganta.

Haicais

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Inspire
Respire
Não pire.

Teu olhar de lamparina
acende
a ternura mais fina.

A que o amor me destina?
saudade
ou rima?

Temperatura amena.
Choveu saudades
na tarde serena.

Teu beijo acorda
a minha poesia:
BOM DIA.
Teu braço
em minha cintura:
Ninguém segura.

Diagnóstico fiel:
sem teus olhos de mar,
cadê céu?

Palavras

Palavras voam ao vento.
Atravessam fronteiras,
chegam até onde a vista não alcança.
E são cálidas,
complacentes,
cuide para que as suas palavras
levem nas asas ouro,
levem a mais doce esperança
onde pulsa a fé, cumplicemente.
Deixe- as
seguindo o próprio percurso.
Que sejam encantadas,
delineadas,
iluminadas,
ilimitadas.
Que sejam sementes,
que saibam acalentar sonhos,
os mais simples e os mais complexos.
Palavras brancas, verdes, amarelas,
vermelhas de paixão.
As negativas, não.
Deixe-as quietas, adormecidas, talvez. Elas passarão.
Palavras, palavras...
Na recriação dos sentidos, na emoção que contagia,
na flor que desabrocha, linda,.
Assim são as palavras.
Use-as, ame-as, solte-as ao sopro da brisa
e ao silencioso toque do vento.

Noite

terça-feira, 9 de junho de 2009

Flores altas
velam o luar
e as noites longas
como a vida.
Coados os sonhos,
restam os belos.
Os assassinados pelo desejo,
esses dormem
em noturna paciência.
A noite é voloz
e voraz.
Ficam as lembranças do que fomos
na construção do nosso dia.
Âncoras nos seguram,
bússolas
governam o nosso destino.
Lembranças são pombas voando
pelas campinas,
vão e vêm, vêm e vão.
Quando cessa a noite,
constelações se despedem,
nuvens se organizam,
claras e fluídas.
E a vida continua.

Enredo

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Eu estou para o teu corpo
como o vinho para o pão.
Feito o velho, feito o novo,
Pelo sim e pelo não.

Eu estou para o teu jogo
como o amor para o perdão.
feito fogo, feito a água
provocando inundação.

Eu estou para o teu corpo
como vela pro navio.
Feito orvalho, feito manto
por teu pranto ou por teu frio.

Eu estou para o teu beijo
como o toque, feito cio,
Feito orvalho: doce enredo,
Feito dor: fio após fio.

lunar

Muro alto, tantas portas,
Tantos caminhos sonhei.
Pelas pontes dos teus olhos
tanto mar atravessei.

Mundo torto, vasto sonho,
nas estradas que cruzei.
Pelo vão da tua escada
me perdi e me encontrei.
Hoje sou o que quiser
traço a vida com meus pés
só o que conta é cantar.

Cantar, cantar e cantando,
te perdendo ou te encontrando,
nas invencíves marés.
( O resto é sombra lunar.)

O grito

Um grito acordou a noite.
Onde florescem sonhos,
borboletas se agitam
ao vento.
Movimento como se trovejassem primaveras.
Eu desperto,
tímida rosa no teu jardim
esperando o orvalho.

O grito

Um grito acordou a noite.

Onde florescem sonhos,

borboletas se agitam

ao vento.

Movimento como se trovejassem primaveras.

Eu desperto,

tímida rosa no teu jardim

Marilia Abduani

domingo, 7 de junho de 2009

Há um ciúme, um mistério.
Nosso amor é um caso
sério.

Minhas mãos tocaram o vento.
Pelas pontas dos meus dedos
jorravam arco-íris.

O amor
lançou a semente:
brotei canção.

Sou a noite
ou sou o dia?
depende da tua poesia.

A força do meu canto
desce as escadas
do meu pranto.

Vou bordar um arco-íris
no céu do teu sexo
multicoloridamante.

traça o contorno
de minha vida.
Tua forma definitiva

Haikais

Eu sofro do verbo amar.
É um mal que não tem cura,
o remédio é poemar.

Separação


O corte na esperança
rompeu o dia.
Devagar os olhos fecham-se
estáticos.

A névoa da ausência desfez os laços
lassos que se divergem,
isolam- se
no exílio do pranto.

O grito na noite
acorda a saudade.
Insônia.
Mais nada.

Divindade

sábado, 6 de junho de 2009

Eu não amo o teu cérebro, nem o corpo,
nem o teu beijo que me faz dançar.
Se, para mim, tudo que é vivo, é morto,
o que faz rir é o que me faz chorar.
Eu não desejo o teu abrigo torto,
nem teu sorriso ou tua divindade.
Se para mim, o que muito, é pouco,
o que traz paz é o que me causa alarde.
Punhal bravo dentro em mim se aninha
e, se é de treva a luz que me avizinha,
eu só te quero como distração.
Eu não amo nada mais que o teu reflexo
e só te entendo como um ser perplexo
ante a minha inabalável solidão.

Tempo

Provo o mel da tua boca
orvalho
molha o meu corpo e o teu.
Sou como a onda que bate
nas pedras tantas dos rios.
Sou seu mais novo brinquedo
que o tempo inda não comeu.
O tempo passa voando
e nunca espera por nós.
Quem dormiu não viu o tempo
cruzando a vida veloz.
Acordo a luz dos teus olhos
navalha,
corta o meu corpo do teu.
Eu sou a sereia que canta
os tantos segredos frágeis
que brotam dos sonhos meus.
O tempo passa voando,
bem rente ao meu coração.
Ah, tempo, que tempo sobra
pra dar tempo ao teu perdão?

Primavera

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O teu discurso de música e ciúme
atravessa os meus ouvidos
e me fala de flores, ventos,
pássaros e pedras,
estrelas e rios.
Em meus ouvidos, os teus segredos.
Por tudo isso, perco-me sempre,
humanizo-me nas árvores,
no orgasmo, no silêncio,
no engasgo de saber-me com asas
e sem poder voar.
Em meus ouvidos o teu silêncio,
a hora mais clara e precisa,
em que o sol espanta a lua.
Eu faço amor com a brisa,
com os bichos,
com os frutos,
com as pétalas da primavera
e engravido.
Eu, grávida de flores,
ávida de lua,
plena de mar.

Isca

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Jogo meu sonho no rio
pra pescar seu coração.
Mas seu coração vazio
se perdeu de minha mão.
O vento sopra: é inverno.
meu corpo treme de frio.
Nas águas meu sono eterno
se contorcendo no estio.
Anzóis de fios de pranto
no azul do mar sem fim.
Tontos, meus olhos marejam,
o mar desaguando em mim.
A isca é meu canto, o meu grito,
Pressinto teu beijo: é o vento
Pesco (a) dor : mar infinito
na rede do pensamento.
Jogo meu sonho no rio
até onde a vista alcançar.
E as ondas sussurram mar- ilha
meu sonho de ilha e mar.

Dilema

Devo rir ou chorar diante da guerra da vida?
Devo arrancar os espinhos ou esquecer os espinhos e buscar nova flor?
O que está certo: apagar a vingança ou morrer de esperança?
Tudo é dilema.
Não sei se calo, não sei se grito, não sei se nego ou se permito.
Devo procurar meus passos para achar os teus
ou esquecer teus passos para achar os meus?
Devo sair de mim pra te encontrar, sereno,
ou arrancar de mim o teu olhar moreno?
Esquecer a luz e caminhar nas trevas
ou esquecer as trevas se quiser ter luz?
Dentro de mim tudo é drama, tudo é fossa, tudo é trama.
Não sei se canto, não sei se escapo
ou se levanto e te mato.
Devo esquecer os versos que, em ,vão, componho
ou esquecer a realidade e viver de sonhos?
E à noite, devo sonhar ou dormir infeliz?
Devo querer quem me quer ou esquecer quem não me quis?
Devo viver a vida e fugir da morte
ou esquecer a morte se quiser ter vida?
Não sei mais: se amo ou se esqueço
se enfrento ou se escondo,
se espero ou se prossigo em minha ida.
Devo rir ou chorar diante da treva da vida?

Encantada

A estrela cadente me guia
por todo espaço celeste.
E, à noite, sonho e magia,
teu olhar de luz me veste.
E eu permaneço encantada
até que brote outro dia.
e prossigo, iluminada,
pelo clarão da poesia.

Morte absoluta

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Quem me dirá quando eu, tonta,
me apodrecer nesse espanto:
_ A tristeza foi seu guia
em cada meia-noite em ponto
Quem me dirá quando eu, muda,
absurda e morta de sono:
_ Esta, só foi calmaria
e só recebeu abandono.
Quem me olhará com ternura,
paciente e morto de medo:
_ Esta, não teve nem face
foi uma sombra sem segredo.
Quem lembrará, certo dia,
com agonia e com aflição:
_ Esta, não viveu a vida
foi pura desilusão.
Quem pensará co saudade,
piedade ou seja o que for:
_ Esta ,não teve um espelho,
foi apenas retrato sem cor.

 
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