Sinfonia da Mata.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A noite era escura
sem lua no céu.
de uma nuvem grossa
descia um véu.
Eram gotas, mil gotas
fazendo escarcéu.

Silêncio na mata.
Toró, toró se ouvia.
E, tamanho toró...
que agonia.

Porém, logo após
o tremendo toró
ouviu-se um som
que fazia assim:
tum tum tum
Da boca do sapo
ouviu-se um coaxo.
Se foi música, não sei.
Mas bem que eu acho
se fazendo de rei
rei do contrabaixo.

E, junto com ele,
outro aprendiz
esfregava as pernas,
alege, feliz.
Roça daqui,
roça de lá
saiu novo som:
Era o grilo Clarim
crim crim crim crim.

Debaixo da folha,
no galho agarrada,
ouviu-se um gemido
ou uma grande risada.
Esta não fumou
pelo fôlego se percebe.
Não conto o tempo
com medo que erre.
Só sei que demora
o som que ela faz.
É um violino
para a frente e para trás.
Sei que ela gosta
de tocar guitarra
que lembra o seu nome,
pequena cigarra.
siiiiiiiiiiiii siiiiiiiiiiiiiiii

Do alto da árvore
a maestrina vaia,
não perde a pose
nem foge da raia.
Girando o pescoço
para tudo ver
ela, que não sabe,
só quer aprender
a contar: um, três, dois,
sem deixar para depois.
Como não acerta,
emite um pio,
um seco etampido
que dá calafrio.
Pobre coruja,
dona do saber,
Fugiu da escola
sem nunca aprender.
umm umm umm
Tocando tuba
a velha coruja
logo se enturma.

O mestre carpinteiro,
roedor de primeira,
batendo com o rabo
completa a zoeira
É tum tum tum
Tá tá tá
que ecoa na mata
para tudo escutar.
O castor da batera
de noite e de dia.
Roendo as árvores
toca bateria.

Tô fraco, tô fraco
sendo assim, vou-me embora,
abria o bico a bela senhora.
Como cantora eu sou um fiasco
Da Áfica eu vim
nos tempos de outrora.
Não sabem quem sou?
Muito bem, ora ,ora,
não veem que eu
sou galinha da Angola?

Sou lisa, roliça,
sem braços nem dedos.
Muito venenosa
isso não é segredo.
Sem mão, não carrego
os meus penduricalhos
mas trago comigo
um lindo chocalho.
No silêncio da noite
causo tremelique.
a quem quer que ouça
o meu chique chique.
xii xii xii

Uh Uh Uh Ah Ah Ah
acordado, o macaco,
esperto que é,
gritou sorridente
de orelha em pé.
Pulou pelos galhos, pelos seus cipós,
a contar para os seus:
Não estamos sós.

Vários pontinhos de luz a piscar
fizeram a noite
toda clarear.
Eram vagalumes , os lanternas da mata,
a iluminar a bela serenata.
Aos pares dançavam os velhos casais
espalhando flores pelo matagais.
Dizia assustada a boa tartaruga:
Nunca dancei com alguém como tu.
Sem saber que, enamorada,
ela bailava com o mestre tatu.

-Sozinho não fico. Disse o tamanduá.
jogando o seu charme
para a cheirosa gambá.
Esta, a princípio, se queixou do fato,
mas quem não tem cão, dança com gato.
Tocando trombeta, de cbeça para baixo,
piscava o morcego para a aranha vizinha
Esta, no entanto, fitava a joaninha
que aos berros cantava para Dom Mosquito
um back vocal um tanto esquisito
Zzzzzzzzzzzzz Zzzzzzzzzzzzzzzzz.

Houve dança do vento com a brisa,
e pelas folhas, o orvalho serenou.
O Rio Claro, cristalino em sua ida,
aguava a terra, terra esta que brotou.

A noite escura então se findou
quando, lá no céu, a lua pintou
trazendo consigo estrelas mil,
formando um palco para o cantoril
A velha orquestra, linda, reunida,
cantava de tudo
em louvor à vida.


José Renato de Souza Abduani, meu maninho.

Comentários:

Postar um comentário

 
Pelo Estreito Corredor do Tempo © Copyright | Template By Mundo Blogger |